27 julho, 2006

O aborto e a criminalidade nos EUA

Texto extraído do livro Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner

A legalização do aborto nos Estados Unidos, decidido pela Suprema Corte Americana em 22/01/1973, teve uma série de consequências, mas o efeito mais dramático da legalização - e que levaria anos para se fazer sentir - talvez tenha sido o seu impacto sobre a criminalidade. O aborto legalizado resultou num número menor de filhos indesejados; filhos indesejados levam a altos índices de criminalidade. A legalização do aborto, assim, levou a menos crimes. Esta constatação persiste até mesmo quando descontada uma variedade de fatores que influem na criminalidade: o nível de prisões efetuadas, o número de policiais e a situação econômica.
Essa teoria está fadada a provocar inúmeras reações, que vão da descrença à repulsa, bem como uma variedade de objeções, das triviais às morais.
Uma forma de testar o efeito do aborto sobre a criminalidade seria examinar os dados da criminalidade nos cinco estados que em 1970 legalizaram o aborto antes que a Suprema Corte americana estendesse este direito ao restante do país. Em Nova York, na Califórnia, em Washington, no Alasca e no Havaí, estados percursores da legalização, a criminalidade baixou antes dos outros 45 estados. Entre 1988 e 1997, os crimes violentos nos estados que primeiro legalizaram o aborto caíram 13% se comparados aos demais; entre 1994 e 1997, seus índices de homicídio caíram 23% mais do que os dos outros estados.
Na verdade, os estados com os mais altos índices de aborto nos anos 70 apresentaram as maiores quedas na criminalidade nos anos 90, enquanto os estados com baixos índices de aborto mostraram uma queda menor na criminalidade. Desde 1985 os estados com alto índice de abortos tiveram uma queda aproximadamente 30% maior do que os estados com baixos índices de aborto.
Muitos consideram o aborto em si um crime violento. Um jurista americano afirmou que a legalização do aborto foi pior que a escravidão (já que implica em morte) ou que o Holocausto (o aborto nos Estados Unidos -aproximadamente 37 milhões até 2004- superou o dos 6 milhões de judeus mortos na Europa). Quer se tenha ou não opinião extremada em relação ao aborto, o tema contnua a ser extremamente delicado.
Seja qual for a posição assumida frente ao aborto, uma pergunta geralmente vem à mente: que atitude tomar quanto à troca de mais abortos por menos crimes ?

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