16 maio, 2008

Lições da Colômbia

(Zuenir Ventura - O Globo - 14/05/2008)

Assistindo há dias na Casa do Saber ao impressionante documentário "O veneno e o antídoto", de Estevão Ciavatta, sobre redução da violência urbana na Colômbia, e ao debate que se seguiu com o sociólogo Hugo Acero, entendi por que vem fazendo tanto sucesso esse jovem de 46 anos, magro, miúdo, que em sua terra foi capaz de enfrentar bandidos que mataram 300 policiais num só ano - além de juízes, promotores, candidatos a presidente. Hoje consultor das Nações Unidas, ele foi por nove anos secretário de Segurança de Bogotá e, em três gestões, conseguiu resultados de fazer inveja. Em 1993, a taxa de homicídio na capital da Colômbia era de 80 por 100 mil habitantes; no ano passado, já caíra para 18, menos 77,5%. E tudo isso sem pirotecnia e sem milagre.

Quando se pergunta, por exemplo, qual foi a primeira medida adotada para reduzir o crime, ele não hesita: "Proibimos o porte de armas em Bogotá. Por decreto." Que mais?"Atacamos a corrupção policial. Cerca de 15 mil policiais foram expulsos e continuam sendo exonerados. Agora nem é necessário processo. Se o comandante achar que há provas suficientes, pode demitir o policial. Em 1992, só 17% dos colombianos confiavam na polícia. Hoje, são 75%." Além disso, quintuplicaram os investimentos no setor e aperfeiçoaram a formação profissional. "Colocamos policiais nas universidades onde se forma a elite civil e aumentamos os salários."

Quanto à informação e à inteligência, o óbvio também: "Criamos um sistema único de informação para as duas instituições. Sem saber onde se seqüestra, se mata, se rouba, onde se suborna, onde se corrompe, quem suborna e quem corrompe, é impossível dar certo." Por fim, outra lição de Acero para os que acham que o combate ao narcotráfico é uma guerra onde vale tudo, até transgredir a lei: "É preciso enfrentar o crime com medidas duras, mas com respeito aos direitos humanos, inclusive dos bandidos."

O ex-secretário de Segurança de Bogotá não é contra o método do enfrentamento e do estresse - usado no Rio - mas chama a atenção: "Não adianta entrar só com a polícia numa zona violenta. Antes, precisamos saber quantas escolas há, quantas crianças as freqüentam, quantos postos de saúde, se há saneamento, se o lixo é recolhido." Em vez de batidas policiais que entram, matam e vão embora, ele recomenda a ocupação com todas as outras instituições republicanas: justiça, saúde, ensino. Em suma, uma invasão permanente de cidadania.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Xiko,
Tudo que Zebranir Ventura escreve dá testemunho de sua zebrice. O caso da douta palestra na “Casa do Saber” (!?) é palmar: segundo Zebranir, fiado na opinião de (s)ociólgo, o negócio é proibir o porte de arma, acabar com a corrupção policial e investir no social. Mas pensemos: acabar com o porte de arma desarma o cidadão honesto, não o bandido. Logo não é por aí. Acabar com corrupção policial é uma boa, mas em A.Latrina isso é coisa antiga, ampla, geral e irrestrita. Logo, não é principalmente por aí. Investir no social, bem aí é brincadeira, né, o que tem esgoto a ver com homicídio? Se fosse assim, os cafundós do Nordeste seriam os lugares mais violentos e sabemos que não são. Curioso com tamanho nonsense, fui fuçar na Internet e descobri o relatório de 2005 da Policia Nacional da Colômbia (em http://www.nationmaster.com/static/cccr2005.pdf). Em nenhuma parte, a policia cita as medidas de Zebranir! Ao contrário, o crime caiu (embora seja ainda alto, mais de 35 assassinatos por 100 mil), mas a chave foi mais policiamento, mais investigação e mais porrada, haja vista que criaram até milícias de camponeses para dar cabo dos meliantes. Outra cosita que o ociólogo e Zebranir não falam: quem financiou e, em parte, bolou toda essa atividade foram os Estados Unidos por meio do Plan Colômbia, que alocou às FFAA e à polícia mais de USD 7 bilhões, principalmente, depois de 2000 (http://en.wikipedia.org/wiki/Plan_Colombia). Não espanta que a criminalidade, cuja fonte lá é tanto bandoleira quanto pseudo-revolucionária tenha caído desde então.
Abs