14 março, 2008

Capitalismo bom, capitalismo ruim

Por William Baumol*
Carl Schramm**
Robert Litan***

Publicado originalmente em: Valor Online, 13/03/2008

Muitas pessoas presumiram que quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, o “capitalismo” havia vencido a Guerra Fria ideológica e que o “comunismo” havia perdido. Embora o “capitalismo”, definido como um sistema econômico construído sobre a titularidade privada da propriedade, claramente tenha prevalecido, existem muitas diferenças entre os quase 200 países que hoje o praticam de alguma maneira.

Consideramos prático dividir as economias capitalistas em quatro categorias amplas. Embora muitas economias assumam uma posição neutra em relação a elas, a maioria se enquadra essencialmente em uma delas. A tipologia adiante ajuda a explicar porque algumas economias crescem mais velozmente que outras. O capitalismo oligárquico ocorre nos lugares nos quais o poder e o dinheiro estão altamente concentrados na mão de poucos. Esta é a pior forma de capitalismo, não só devido à extrema disparidade de renda e riqueza tolerada por essas economias, mas também porque as elites não promovem o crescimento como meta central da política econômica. Em vez disso, a oligarquia estabelece as regras para maximizar sua própria renda e riqueza. Esses esquemas predominam em vastas regiões da América Latina, do Oriente Médio árabe e da África.

O capitalismo guiado pelo Estado define economias nas quais o crescimento representa um objetivo econômico central (como o é nas outras duas formas de capitalismo), mas tenta atingi-lo favorecendo empresas ou setores específicos. Governos destinam crédito (através de bancos estatais ou orientando decisões de crédito através de bancos privados), fornecem subsídios diretos e/ou incentivos fiscais, concedem proteção ao comércio, ou usam outros dispositivos reguladores na tentativa de “escolher vencedores”.

As economias do Sudeste Asiático demonstraram enorme sucesso com a orientação estatal e, até o fim da década de 1990, surgiram apelos nos Estados Unidos para copiar as suas práticas. Mas o calcanhar de Aquiles da orientação estatal é que, no momento em que essas economias se aproximam da “fronteira da possibilidade de produção”, os formuladores de política ficam sem setores ou tecnologias para copiar. Quando as autoridades dos governos, em vez dos mercados, tentam escolher os próximos vencedores, correm um grande risco de escolher os setores errados, ou de canalizar investimento demais - e, portanto, excesso de capacidade - a setores existentes. Esta tendência contribuiu de forma significativa para a crise financeira asiática de 1997-1998.

O capitalismo das grandes empresas, ou gerencial, caracteriza economias nas quais as grandes empresas - freqüentemente chamadas de “símbolos nacionais” - dominam a produção e o emprego. Existem empreendimentos menores, mas geralmente são varejistas ou prestadoras de serviço com um ou alguns poucos empregados. As empresas crescem por meio da exploração das economias de escala, refinando e produzindo em massa as inovações radicais desenvolvidas por empreendedores (discutidos adiante). As economias da Europa Ocidental e do Japão são importantes exemplares do capitalismo gerencial, que, a exemplo da orientação estatal, também apresentaram vigoroso desempenho econômico.

O capitalismo gerencial, porém, também tem seu calcanhar de Aquiles. Empreendimentos burocráticos na maioria das vezes são alérgicos a assumir grandes riscos - ou seja, a desenvolver e comercializar as inovações radicais que impulsionam a fronteira da possibilidade de produção e que geram enormes saltos sustentados em produtividade e, portanto, no crescimento econômico.

Sem empreendedores, poucas dessas inovações realmente ousadas que moldaram a nossa economia moderna e a nossa vida estariam disponíveis

Empresas de grande porte são geralmente avessas ao risco, não só por serem burocracias, com vários níveis de administração necessários para aprovar qualquer inovação, mas também porque elas não estão dispostas a apoiar inovações que ameacem tornar obsoletos os produtos ou serviços que atualmente respondem por seus lucros. Em nossa opinião, os limites do capitalismo gerencial explicam porque, depois de terem se aproximado dos níveis de renda per capita dos EUA no fim da década de 1980, nem a Europa Ocidental ou o Japão conseguiram se equiparar ao ressurgimento da produtividade movida a tecnologia de informação que começou na década de 1990.

Isso conduz ao quarto tipo: capitalismo de empreendedores. Economias nas quais o dinamismo vem de novas empresas historicamente comercializaram as inovações radicais que continuam impulsionando a fronteira da possibilidade de produção. Exemplos dos dois séculos passados incluem produtos e inovações transformadores como ferrovias, automóveis e aviões; telégrafo, telefones, rádio e televisão; ar condicionado; e, como foi observado há pouco, as várias tecnologias responsáveis pela revolução na TI, incluindo os computadores pessoais e os computadores de grande porte, roteadores e outros dispositivos de hardware, e grande parte do software que os faz funcionar.

Certamente, nenhuma economia pode consumar o seu potencial pleno tendo apenas empresas empreendedoras. A combinação ideal de empresas contém uma vigorosa dose de empreendimentos de grande porte, que dispõem dos recursos financeiros e humanos para refinar e produzir em massa as inovações radicais, juntamente com firmas mais novas.

Foi necessário que a Boeing e outras grandes fabricantes de aviões, por exemplo, comercializassem o terreno que os irmãos Wright desbravaram, ou que a Ford e a General Motors produzissem o automóvel em massa, e assim por diante. Sem empreendedores, porém, poucas dessas inovações realmente ousadas que moldaram a nossa economia moderna e a nossa vida estariam disponíveis.

O desafio, portanto, para todas as economias que procuram maximizar o seu potencial de crescimento, é identificar a combinação correta de capitalismo gerencial e empreendedor. Economias nas quais empreendedores prosperam atualmente não podem se tornar complacentes. Economias dirigidas pelo Estado podem manter sua rota de crescimento acelerado, mas acabarão tendo de fazer uma transição para uma mistura compatível das duas outras formas de “capitalismo bom”, se quiserem continuar com seu crescimento veloz.

Índia e China, cada qual à sua maneira, já estão se movimentando nesta direção. O desafio mais penoso será que economias atoladas no capitalismo oligárquico concretizem uma transição semelhante. Poderá exigir nada menos que uma revolução - idealmente pacífica, claro - para se substituir as elites que atualmente dominam essas economias e sociedades e para as quais o crescimento não é o objetivo central.

* William Baumol é livre-docente em Economia e diretor do Centro de Empreendorismo Berkeley na Universidade de Nova York.

** Robert E. Litan é vice-presidente de Pesquisa e Política na Fundação Kauffman e Pesquisador Sênior nos Programas de Estudos Econômicos e Economia Global no Brookings Institution.

*** Carl Schramm é executivo-chefe e presidente da Fundação Kauffman e Membro da Escola de Administração de Empresas Darden na Universidade Virgínia. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008.
www.project-syndicate.org

Um comentário:

Anônimo disse...

Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Home Theater, I hope you enjoy. The address is http://home-theater-brasil.blogspot.com. A hug.