23 setembro, 2006

O Rio e as Eleições

Ubiratan Iorio
(Publicado no Jornal do Brasil em 18/09/06)


"Quando vier Outubro - e restam poucos dias - o povo brasileiro, pacífico a ponto de assemelhar-se a um manso cordeirinho, alienado, ao extremo de, seguindo o exemplo de seu presidente, dar a entender que não ouviu, não viu e não sabe nada sobre tantos escândalos e, até certo ponto, poltrão, porque só a covardia pode explicar a resignação com que costuma aceitar um oceano de corrupção e um furacão de impostos que tudo lhe tira e nada lhe dá - o brasileiro, dizia, vai eleger um novo presidente, novos governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Dizem, há muito tempo, que a esperança é a última que morre. Só que, infelizmente, nem a esperança é eterna. O que podemos esperar de bom das próximas eleições?

As pesquisas - que a própria esperança nos sugere olhar com desconfiança - apontam para a reeleição de Lula, aquele que, no seu próprio dizer chulo, reinventou o Brasil. "Mensalões"? "Sanguessugas"? Suspeitas sobre os assassinatos dos prefeitos de Santo André e Campinas? Uso da máquina federal por seu partido? Valérios, Zés - Genoínos e Dirceus -, Humbertos, Silvinhos, Delúbios, Okamottos, Gushikens? Tentar calar a imprensa? Pelas pesquisas, nada disso contará...

É desolador ver como a democracia funciona - ou melhor, deixa de funcionar - em nosso pobre rico país! Em qualquer nação séria, o presidente teria sofrido o impeachment, se não por participação direta nas tramóias perpetradas contra o povo, ao menos por omissão. Mas o homem está lá, firme como uma rocha, em primeiro lugar, mentindo como um Pinocchio de barbas, regurgitando sandices, tolices e tagarelices aos borbotões. Só uma injeção de cupim mesmo...

No nosso maltratado Rio de Janeiro - que dizem ser a caixa de ressonância do país - o segundo turno se daria entre Lula e Heloísa Helena, de acordo com a última pesquisa do Ibope, que retrata a rupestre senadora - que consegue defender socialismo e liberdade a um só tempo - à frente de Alckmin, com 19% das intenções de voto. E o mais preocupante é que a referida senhora tem o melhor desempenho entre os eleitores cariocas com maior renda e escolaridade: alcança 26% dos votos entre os eleitores com ensino superior! Lula, por sua vez, tem 29% dos votos. Se a escolha de quem estudou é entre PT ou PSOL, podemos concluir que algo de muito errado está acontecendo com o sistema de educação.

A "esquerdopatia" carioca vai mais longe, colocando como séria candidata ao Senado uma militante do PCdoB da linha albanesa - que nem na Albânia existe mais! -, cabelos também revolucionários, dos quais se tem a impressão de que vão escapar pássaros em revoada a entoar o hino da Internacional, orlando um cérebro prenhe de idéias paleolíticas... E, para governar o nosso surrado estado, o candidato apoiado pelo casal "infantil"... Brizola, Moreira, Marcelo, Garotinho, Benedita e Rosinha... Não, caro leitor, não é a escalação do "Tabajara F.C.", é a relação dos que nos vêm governando desde o início dos anos 80... Que estado pode suportar um time desses sem mergulhar de cabeça na "Segundona"? Será que nós, cariocas, somos mesmo "malandros"?

Já dizia Nelson Rodrigues que subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos... Desde o primeiro governo de Brizola o Rio vem sofrendo um progressivo processo de degradação política, social e econômica. Mas o carioca instruído, aquele que parece desejar entregar a Heloísa Helena mais de um quarto dos votos, é o mesmo que normalmente mora na zona sul, adora um chopinho e uma Devassa gelados no Baixo Leblon, freqüenta os restaurantes da Barra da Tijuca, exibe roupas de boas grifes e não entende absolutamente nada de política, ética ou economia, porque seus professores universitários, com raríssimas exceções, enfiaram em sua cabeça todas as falácias marxistas possíveis e imagináveis, impedindo-o de exercer o mais elementar dos direitos de qualquer pessoa humana, que é o de pensar por conta própria. Depois não entendem porque os empregos estão, há bastante tempo, migrando para São Paulo... É lamentável que tantas pessoas não saibam aprender com os próprios erros ou com a experiência passada! "

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