04 agosto, 2006

Voto nulo ?

O movimento "Voto Nulo", tem boas intenções em termos de protesto. Mas na verdade, são as pessoas mais conscientes e indignadas que vão votar nulo. Isso significa uma perda muito grande para os canditatos que dependem do voto de opinião e facilita a vida daqueles que compram votos. Nós trocamos os políticos é votando contra eles e não anulando o voto ou esperando que a Justiça os casse. Quem tem que cassar e eleger o político é o eleitor, com o seu voto. Se votamos mal, temos maus governos.

É óbvio que o eleitor sente-se revoltado pela situação dominante, quando os próprios valores democráticos estão corrompidos pelos abusos dos eleitos. Quando tudo parecia denunciado e penosamente apurado (Mensalão, Bingos, Correios etc.), surge o caso das ambulâncias (Sanguessuga).

Porém, o voto nulo configura o sonho eleitoral de todos os Severinos, Jeffersons e Valdemares espalhados pelo país. Todos mantêm em seus currais e cabrestos, um eleitorado cativo suficiente para assegurar a volta a Brasília. Políticos desse tipo pouco se importam com o voto nulo. Segundo as regras eleitorais, contabilizam-se os votos válidos. Descartam-se todos os outros. Mais eficaz, portanto, é reduzir a bancada de corruptos e ineficientes. Para tanto, é preciso que se escolham candidatos decentes.

Em 1974, por exemplo, a expressiva votação obtida pelo MDB - um ato de protesto contra a ditadura - acabou apressando a abertura. O voto válido tornou-se mais eficaz do que o nulo.

Outro exemplo recente ocorreu nas eleições venezuelanas, onde o voto não é obrigatório. Disposta a barrar a legitimidade dos candidatos apoiados por Hugo Chávez, a oposição pregou a abstenção, que chegou a 70%. Resultado: os candidatos chavistas elegeram-se com folga. Um protesto vão.

Na prática, seus efeitos são como o próprio nome diz, nulos. Trata-se de um grito perdido no ar.

Lembre-se que ao votar nulo, o eleitor pode "entregar o ouro ao bandido".

Um comentário:

Anônimo disse...

O voto nulo não é voto de protesto! É voto de desesperança e existem bons motivos para isso, além da sucessão de escândalos que são sintomas e não causas. Alguns dados estruturais sobre nosso eleitorado e sistema político mostram o drama: a) 14% das pessoas com mais de 15 anos são totalmente analfabetas; b) 26% são analfabetos funcionais (menos de 4 anos de estudo). Esses são dados oficiais, mas, devido à genial eliminação da repetência, não seria absurdo estimar que os analfabetos funcionais reais chegassem a 1/3, talvez mais; c) a circulação diária dos 16 maiores jornais brasileiros é inferior a 3 milhões de exemplares! Mesmo adicionando o pessoal da Internet e levando em conta um multiplicador familiar de 4, o número de leitores dificilmente ultrapassa os 15 milhões num eleitorado de 115 milhões; d) 50% dos trabalhadores ganham menos de dois salários mínimos; 70%, menos de três; e) a taxa de fecundidade está em 4,5 entre os lumpen (1/3 do total) e 1,1 nas classes de mais renda (menos de 10% do total), ou seja, no futuro a má distribuição de renda tende a piorar; f) o voto é obrigatório (em que país civilizado é assim?); e) os “di menor” de 16/17 anos, cerca de 3 milhões, podem votar, embora sejam inimputáveis criminalmente; g) a representação é distorcida em favor das regiões mais atrasadas que tem, no barato, 50 congressistas a mais em desfavor do Sudeste; h) o sistema é presidencialista, uma vez eleito, o pulha só sai via “impeachment” ou 04/08 anos depois; i) o sistema favorece os pulhas senadores que ficam lá por 8 anos! i) a eleição segue o critério proporcional, quando na maioria dos países, adota-se o voto distrital (exceto Alemanha, com o sistema misto). E por aí vai. Agora, me diga: com esse sistema e esse eleitorado, precisa ser pessimista para desacreditar? Óbvio que não! E alguém vai mudar isso? Ninguém, claro!