16 maio, 2008

O "eu ideal"

Merval Pereira, O Globo (14/05/2008)

A comparação do lulismo com o peronismo fica cada vez mais forte à medida que o presidente Lula vai exacerbando sua faceta populista e, desprezando a intermediação institucional, acelera a estratégia de ligação direta com o eleitorado com comícios permanentes para o lançamento do PAC, um programa de obras eleitoreiro que passa por cima até mesmo de ícones do petismo, como a ex-ministra Marina Silva, e de questões centrais, como a política para o meio-ambiente, para concretizar o sonho do Brasil grande, potência mundial, uma obsessão dos governos militares retomada pelo governo do líder sindicalista.

A auto-estima exagerada é um fenômeno psíquico que provoca o sentimento de onipotência que, segundo o psicanalista Joel Birman, faz o seu possuidor acreditar estar acima das regras que o constrangem ou, na linguagem psicanalítica, ser o "eu ideal", que tem as respostas para tudo. Na política, a auto-estima exagerada pode produzir ditadores ou, no nosso caso, uma versão pós-moderna do caudilhismo latino-americano.

A centralização das ações políticas em torno da figura do líder é o que faz o PT não ter tido qualquer outro candidato a presidente que não fosse Lula desde 1989 e, depois de quase seis anos de poder, não ter nenhum candidato viável num governo bem avaliado popularmente.

A aventura do terceiro mandato consecutivo está inserida nesse contexto de tentativa de utilizar instrumentos democráticos como os plebiscitos para perpetuar no poder dirigentes com características de caudilho.

É o caso de Hugo Chavez na Venezuela, que veste com perfeição o estereótipo do caudilho, pois, além de ser um líder populista, ainda por cima é militar.

Historiadores consideram que o PT pós-Lula, em vez da saída proposta pelo governador Aécio Neves, de conciliação política com o PSDB para uma espécie de governo de união nacional, pode ter o mesmo destino do peronismo argentino, com diversos grupos disputando o espólio político do lulismo, assim como no peronismo houve espaço para o radicalismo de esquerda dos montoneros e também para o conservadorismo de direita de Menem.

Não teria sido por acaso, portanto, que o presidente Lula, não havendo condições políticas de lançar dona Marisa Letícia como sua sucessora, como fez agora Nestor Kirchner na Argentina, na melhor tradição peronista (basta lembrar que Perón fez presidentes Evita e Isabelita, suas mulheres), procurou na figura de uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, uma candidata que teoricamente seria neutra para seu projeto político que, se dizia, era o de retornar em 2014.

Aparentemente foi abandonada a idéia, por inviável, de que um sucessor aliado aceitaria realizar apenas um mandato, para permitir o retorno do "líder". O próprio Lula teria comentado que não queria fazer de seu sucessor "um inimigo". A história demonstra que dificilmente um político eleito, mesmo que tenha sido um "poste", aceita a idéia de submissão eterna ao "chefe" político.

Recentemente, os ex-prefeitos Luiz Paulo Conde, do Rio, e Celso Pitta, de São Paulo, que se voltaram contra seus "criadores", Cesar Maia e Paulo Maluf, respectivamente, são bons exemplos.

O general Golbery do Couto e Silva, guru político de toda uma geração de militares e planejador do projeto de distensão política quando chefe do Gabinete Civil do governo Geisel, chegou a essa conclusão depois de ver o General João Baptista Figueiredo, que ele e Geisel fizeram presidente da República para continuarem conduzindo o processo de abertura democrática, atuando com toda independência e sob novas influências políticas.

"Quando o sujeito sobe a rampa do Palácio do Planalto com aqueles soldados todos batendo continência, chega lá em cima convencido de que está ali por seus próprios méritos, e sempre haverá alguém para garantir isso a ele", dizia, irônico, Golbery.

Também em comum com o peronismo é a crescente influência sindicalista no governo Lula, um processo bem típico, segundo o professor de História Contemporânea da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, do período pós-2ª Guerra Mundial, onde há a combinação de longas permanências de partidos operários no poder com o estado de bem-estar social.

Vai acontecer então o que Francisco Carlos chama de "colonização" das estruturas do Estado por esses partidos. "Eles ocupam amplos espaços no Estado, e perdem qualquer élan revolucionário, como o peronismo na Argentina e o PT no Brasil".

Segundo ele, mesmo que mantenham uma retórica obreirista, "a moldagem da ação política é sindicalista, de negociação para resultados, estão disponíveis para acordos que representem uma doação ou aquisição de alguma fatia do butim que o estado de bem-estar social cria em vários países".

Essa aristocracia operária, que o sociólogo Chico Oliveira classificou de "nova classe", acaba rapidamente criando esses nichos coloniais dentro do Estado. "O objetivo deles não é político no sentido antigo, de um projeto de Estado, mas é setorial". Na análise de Francisco Carlos Teixeira, esse processo ocorreu claramente com o Solidariedade, na Polônia, e com o PT.

Como tem como alavanca os sindicatos e todas as organizações que derivam do sindicato, esse tipo de governo, segundo Francisco Carlos, "não consegue ter um planejamento do Estado como um todo. As propostas para a mudança ficam barradas pelos interesses setoriais que colonizaram o Estado".

O interessante é que o candidato Lula, em 2002, aparece em uma passagem do documentário de João Moreira Salles "Entreatos" chamando Lech Walessa, o líder operário polonês do Solidariedade e posteriormente presidente da Polônia, de "pelegão". Mas, hoje, quem é acusado de pelego é o próprio Lula.

15 abril, 2008

Lula, o pelego?

Francisco C. Weffort, O Globo (15/04/08)

Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública?

Que coisas tão graves em seus gastos na Presidência estará Lula procurando esconder da opinião pública? Que de tão grave têm as despesas dos palácios do Planalto, da Alvorada e da Granja do Torto que possam explicar a cortina de fumaça que o governo criou para impedir o controle dos cartões corporativos de Lula, Marisa, Lulinha, Lurian etc.? A estas alturas, só o governo pode responder a tais perguntas. E como o governo não responde, a opinião pública, sem os esclarecimentos devidos, torna-se presa de dúvidas sobre tudo e todos.

É conhecida a ojeriza de Lula a qualquer controle sobre gastos. Evidentemente os dele, da companheirada do PT, dos sindicatos e do MST, sem esquecer um sem-número de ONGs sobre as quais pesam suspeitas clamorosas. Ainda recentemente, ele vetou dispositivo de lei que exigia dos sindicatos prestação de contas ao TCU dos recursos derivados do imposto sindical (agora “contribuição”). Há mais tempo, Lula era contra o imposto em nome da autonomia sindical.

Agora que está no governo, deixou ficar o imposto e derrubou o controle do TCU. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. O que o Lula e os pelegos querem é o que já existia na “república populista”, dinheiro dos trabalhadores sem qualquer controle. Lula, a chamada “metamorfose ambulante”, não se tornou ele próprio um pelego? Assim como defendeu a gastança dos sindicatos em nome da autonomia sindical, agora defende sua própria gastança na Presidência em nome da segurança nacional. Isso me lembra uma historinha de 1980, bem no início do PT, quando João Figueiredo estava no governo e Lula estava para ser julgado na Lei de Segurança Nacional. Junto com alguns outros, eu o acompanhei numa viagem à Europa e aos Estados Unidos em busca de apoio.

Como outros na comitiva, eu acreditava piamente que tudo era em prol da liberdade sindical e da democracia, e as coisas caminharam bem, colhemos muita simpatia e apoio nos ambientes democráticos e socialistas que visitamos. Mas, chegando à Alemanha, fomos surpreendidos pela recepção agressiva do secretário-geral do sindicato alemão dos metalúrgicos. Claro, ele também era a favor da democracia e estava disposto a defender os sindicalistas.

Sua agressividade tinha outra origem: o sindicato alemão que representava havia enviado algum dinheiro a São Bernardo e cobrava do Lula a prestação de contas! A conversa, forte do lado alemão, foi num jantar, e não permitia muitos detalhes, mas era disso que se tratava: alguém em São Bernardo falhou na prestação de contas e o alemão estava furioso. Lula se defendeu como pôde, mas, no essencial, dizia que não era com ele, que não sabia de nada. A viagem era longa. Antes da Alemanha, havíamos passado pela Suécia, e fomos depois a França, Espanha, Itália e Estados Unidos. Em Washington, tivemos um encontro com representantes da AFL-CIO, e ali repetiu-se o mesmo constrangimento. Embora não tão agressivos quanto o alemão, os americanos queriam prestação de contas sobre dinheiro enviado a São Bernardo.

Mas Lula, de novo, não sabia responder à indagação referente às contas. Ou não queria responder. Não era com ele.

Nunca dei muita importância a esses fatos. A atmosfera do país nos primeiros anos do PT era outra. Ninguém na oposição estava antenado para assuntos desse tipo. O tema dominante era a retomada da democracia. A corrupção, se havia, estaria do lado da ditadura.

Saí da direção do PT em 1989 e me desfiliei em 1995. Até então era difícil imaginar que um partido tão afinado com o discurso da moral e da ética pudesse aninhar o ovo da serpente. Minha dúvida atual é a seguinte: será que a leniência do governo Lula em face da corrupção não tem raízes anteriores ao próprio governo? A propensão a tais práticas não teria origem mais antiga, no meio sindical onde nasceu o PT e a atual “república sindicalista”? Talvez essa pergunta só encontre resposta cabal no futuro. Mas, enquanto a resposta não vem, algumas observações são possíveis. Parece-me evidente que no momento atual alguns auxiliares da Presidência - a começar pelos ministros Dilma Rousseff, Jorge Hage e general Jorge Felix - foram transformados em escudos de proteção de possíveis irregularidades de Lula e seus familiares.

O outro escudo de proteção é Tarso Genro, que usa uma ginástica retórica para, primeiro, garantir, como Dilma, que o dossiê não existia, só um banco de dados. Depois passou a admitir que existia o dossiê, mas que isso todo mundo faz. Mais ou menos como no episódio do mensalão, lembram-se? Naquele momento, o então ministro Thomas Bastos, acompanhado por Delubio Soares, disse que mensalão não existia, que eram contas não regularizadas, sobras de campanha etc. E lula afirmou de público que isso todos os políticos faziam. O que não impediu que o procurador-geral da República visse no mensalão a prática delituosa de uma quadrilha criminosa.

Adotada a teoria do dossiê - aquele que não existia e que passou a existir - criou-se uma pequena usina de rumores, primeiro contra Fernando Henrique Cardoso e Dona Ruth, depois contra ministros do governo anterior. Minha pergunta é a seguinte: quando virão os dossiês contra Lula e Dona Marisa Letícia? Não é este o futuro que deveríamos almejar.

Mas no que vai do andar da carruagem dirigida por um Lula cada vez mais ególatra e irresponsável é para lá que vamos, inelutavelmente.
Quem viver verá.

FRANCISCO C. WEFFORT é sociólogo.

14 março, 2008

Capitalismo bom, capitalismo ruim

Por William Baumol*
Carl Schramm**
Robert Litan***

Publicado originalmente em: Valor Online, 13/03/2008

Muitas pessoas presumiram que quando o Muro de Berlim caiu, em 1989, o “capitalismo” havia vencido a Guerra Fria ideológica e que o “comunismo” havia perdido. Embora o “capitalismo”, definido como um sistema econômico construído sobre a titularidade privada da propriedade, claramente tenha prevalecido, existem muitas diferenças entre os quase 200 países que hoje o praticam de alguma maneira.

Consideramos prático dividir as economias capitalistas em quatro categorias amplas. Embora muitas economias assumam uma posição neutra em relação a elas, a maioria se enquadra essencialmente em uma delas. A tipologia adiante ajuda a explicar porque algumas economias crescem mais velozmente que outras. O capitalismo oligárquico ocorre nos lugares nos quais o poder e o dinheiro estão altamente concentrados na mão de poucos. Esta é a pior forma de capitalismo, não só devido à extrema disparidade de renda e riqueza tolerada por essas economias, mas também porque as elites não promovem o crescimento como meta central da política econômica. Em vez disso, a oligarquia estabelece as regras para maximizar sua própria renda e riqueza. Esses esquemas predominam em vastas regiões da América Latina, do Oriente Médio árabe e da África.

O capitalismo guiado pelo Estado define economias nas quais o crescimento representa um objetivo econômico central (como o é nas outras duas formas de capitalismo), mas tenta atingi-lo favorecendo empresas ou setores específicos. Governos destinam crédito (através de bancos estatais ou orientando decisões de crédito através de bancos privados), fornecem subsídios diretos e/ou incentivos fiscais, concedem proteção ao comércio, ou usam outros dispositivos reguladores na tentativa de “escolher vencedores”.

As economias do Sudeste Asiático demonstraram enorme sucesso com a orientação estatal e, até o fim da década de 1990, surgiram apelos nos Estados Unidos para copiar as suas práticas. Mas o calcanhar de Aquiles da orientação estatal é que, no momento em que essas economias se aproximam da “fronteira da possibilidade de produção”, os formuladores de política ficam sem setores ou tecnologias para copiar. Quando as autoridades dos governos, em vez dos mercados, tentam escolher os próximos vencedores, correm um grande risco de escolher os setores errados, ou de canalizar investimento demais - e, portanto, excesso de capacidade - a setores existentes. Esta tendência contribuiu de forma significativa para a crise financeira asiática de 1997-1998.

O capitalismo das grandes empresas, ou gerencial, caracteriza economias nas quais as grandes empresas - freqüentemente chamadas de “símbolos nacionais” - dominam a produção e o emprego. Existem empreendimentos menores, mas geralmente são varejistas ou prestadoras de serviço com um ou alguns poucos empregados. As empresas crescem por meio da exploração das economias de escala, refinando e produzindo em massa as inovações radicais desenvolvidas por empreendedores (discutidos adiante). As economias da Europa Ocidental e do Japão são importantes exemplares do capitalismo gerencial, que, a exemplo da orientação estatal, também apresentaram vigoroso desempenho econômico.

O capitalismo gerencial, porém, também tem seu calcanhar de Aquiles. Empreendimentos burocráticos na maioria das vezes são alérgicos a assumir grandes riscos - ou seja, a desenvolver e comercializar as inovações radicais que impulsionam a fronteira da possibilidade de produção e que geram enormes saltos sustentados em produtividade e, portanto, no crescimento econômico.

Sem empreendedores, poucas dessas inovações realmente ousadas que moldaram a nossa economia moderna e a nossa vida estariam disponíveis

Empresas de grande porte são geralmente avessas ao risco, não só por serem burocracias, com vários níveis de administração necessários para aprovar qualquer inovação, mas também porque elas não estão dispostas a apoiar inovações que ameacem tornar obsoletos os produtos ou serviços que atualmente respondem por seus lucros. Em nossa opinião, os limites do capitalismo gerencial explicam porque, depois de terem se aproximado dos níveis de renda per capita dos EUA no fim da década de 1980, nem a Europa Ocidental ou o Japão conseguiram se equiparar ao ressurgimento da produtividade movida a tecnologia de informação que começou na década de 1990.

Isso conduz ao quarto tipo: capitalismo de empreendedores. Economias nas quais o dinamismo vem de novas empresas historicamente comercializaram as inovações radicais que continuam impulsionando a fronteira da possibilidade de produção. Exemplos dos dois séculos passados incluem produtos e inovações transformadores como ferrovias, automóveis e aviões; telégrafo, telefones, rádio e televisão; ar condicionado; e, como foi observado há pouco, as várias tecnologias responsáveis pela revolução na TI, incluindo os computadores pessoais e os computadores de grande porte, roteadores e outros dispositivos de hardware, e grande parte do software que os faz funcionar.

Certamente, nenhuma economia pode consumar o seu potencial pleno tendo apenas empresas empreendedoras. A combinação ideal de empresas contém uma vigorosa dose de empreendimentos de grande porte, que dispõem dos recursos financeiros e humanos para refinar e produzir em massa as inovações radicais, juntamente com firmas mais novas.

Foi necessário que a Boeing e outras grandes fabricantes de aviões, por exemplo, comercializassem o terreno que os irmãos Wright desbravaram, ou que a Ford e a General Motors produzissem o automóvel em massa, e assim por diante. Sem empreendedores, porém, poucas dessas inovações realmente ousadas que moldaram a nossa economia moderna e a nossa vida estariam disponíveis.

O desafio, portanto, para todas as economias que procuram maximizar o seu potencial de crescimento, é identificar a combinação correta de capitalismo gerencial e empreendedor. Economias nas quais empreendedores prosperam atualmente não podem se tornar complacentes. Economias dirigidas pelo Estado podem manter sua rota de crescimento acelerado, mas acabarão tendo de fazer uma transição para uma mistura compatível das duas outras formas de “capitalismo bom”, se quiserem continuar com seu crescimento veloz.

Índia e China, cada qual à sua maneira, já estão se movimentando nesta direção. O desafio mais penoso será que economias atoladas no capitalismo oligárquico concretizem uma transição semelhante. Poderá exigir nada menos que uma revolução - idealmente pacífica, claro - para se substituir as elites que atualmente dominam essas economias e sociedades e para as quais o crescimento não é o objetivo central.

* William Baumol é livre-docente em Economia e diretor do Centro de Empreendorismo Berkeley na Universidade de Nova York.

** Robert E. Litan é vice-presidente de Pesquisa e Política na Fundação Kauffman e Pesquisador Sênior nos Programas de Estudos Econômicos e Economia Global no Brookings Institution.

*** Carl Schramm é executivo-chefe e presidente da Fundação Kauffman e Membro da Escola de Administração de Empresas Darden na Universidade Virgínia. © Project Syndicate/Europe´s World, 2008.
www.project-syndicate.org

13 dezembro, 2007

A crença na "cultura da periferia" é coisa de gente com miolo mole

Reinaldo Azevedo

E não é que o pensamento social moreno resolveu inventar? Num rasgo de criatividade, deu à luz uma jabuticaba teórica que chamarei aqui de Antropologia da Maldade. O seu objeto de estudo – ou de culto – são os índios bororos que moram nos morros do Rio. Ou os nhambiquaras do Capão Redondo, em São Paulo. Ou os caetés da periferia de Vitória. Ou os tupiniquins de qualquer aglomerado pobre do Brasil. A exemplo de boa parte das idéias inúteis que circulam no país, os antropólogos da maldade estão nos cursos de humanidades e ciências sociais das nossas universidades, mas também se espalham pelas redações e chegam à televisão. Ocupam ainda posições de estado. Sua sacerdotisa midiática é a atriz Regina "Casebre". A cada vez que ela proclama que "a periferia é o centro" – ou o contrário, sei lá –, somos remetidos imediatamente aos versos do inglês Auden (1907-1973): "And the crack in the tea-cup opens / A lane to the land of the dead". A fenda na xícara de chá abre uma vereda para a terra dos mortos.


Sei que pôr Auden e Regina Casé num mesmo parágrafo pode parecer certo exagero. Comentando esses mesmos versos num texto da década de 70, o jornalista Paulo Francis (1930-1997) observou que a xícara de chá representava a velha ordem do Império Britânico e de suas classes dominantes. Trincada a xícara – um mundo, então, que desaparecia –, abriu-se caminho para as tragédias das duas grandes guerras. Nossa "xícara" é outra. Não chegamos a ter uma "aristocracia", mas já tivemos algumas ambições. O certo é que a Antropologia da Maldade decidiu fazer da barbárie uma civilização.

Um antropólogo da maldade não acredita ser possível ensinar matemática ou a poesia de Camões e Manuel Bandeira ao morro ou à periferia, mas está certo de que o morro e a periferia é que têm de ensinar funk e rap aos "imperialistas" e aos "playboys", já que se trataria da expressão de um novo sistema de valores. É como se aquela "civilização" já não fosse a nossa. Perguntaram certa feita ao antropólogo francês Lévi-Strauss (na verdade, nascido em Bruxelas) se ele havia se identificado com os índios que estudara. "De modo nenhum!", respondeu. Os nossos antropólogos da maldade não chegam exatamente a se identificar com a "civilização" do morro e da periferia, mas têm por ela um respeito basbaque e reverencial. Lutam para preservá-la da nefasta influência da cultura central, esta nossa – vocês sabem, corroída pelo materialismo, pelo capitalismo e por um moralismo de fachada.

Que coisa formidável! Estamos diante da defesa de uma nova forma de apartheid, um dos refúgios do "pensamento" da esquerda contemporânea. Se a tentativa de ver a "cultura da periferia" como um sistema com valores próprios é só coisa de gente de miolo mole, uma banalidade, essa visão "preservacionista" da civilização da miséria pode assumir uma face cruel quando o assunto é, por exemplo, segurança pública. A polícia, segundo os antropólogos da maldade, estaria proibida de subir o morro sem o prévio consentimento da "comunidade", ou isso caracterizaria uma "invasão". A disposição de enfrentar o crime, que seqüestra as áreas pobres das cidades, é encarada como um ato de guerra, uma hostilidade a um país estrangeiro. E os mortos nos confrontos – exceção feita aos policiais, os "soldados invasores" – serão sempre vítimas inocentes do país agressor.

Lévi-Strauss poderia ensinar a essa gente que os costumes e hábitos de superfície das sociedades – e, pois, também dos morros e das periferias – são manifestações de estruturas de poder. Parecem-me indecentes os protestos de artistas contra a ação da polícia no Rio em contraste com o seu silêncio então cúmplice diante do fato de que os soldados do tráfico matam livre e impunemente nas favelas. A estupidez reacionária desses progressistas chega ao ponto de considerar que isso é coisa "lá deles", da "outra cultura", "matéria da autodeterminação dos povos". Será que devemos reagir ao assassinato dos nossos pobres com o mesmo distanciamento antropológico com que reagimos ao infanticídio entre os ianomâmis?

É improvável que Lévi-Strauss retorne ao Brasil, repetindo a façanha de 1934, quando veio dar aula na Universidade de São Paulo. Agora com 99 anos, completados neste 28 de novembro, é compreensível que tenha outras prioridades. Se o fizesse, talvez aproveitasse para adensar ainda mais a sua obra-marco, Antropologia Estrutural, ou, então, entre a melancolia e o escárnio, perceberia que fez muito bem em esculhambar o país em Tristes Trópicos, obra de 1955 com apontamentos sobre comunidades indígenas brasileiras e notas sobre a nossa cultura urbana. Sobrou até para os universitários, como não? Nos anos 30, eles demonstravam certo desprezo pelos livros de referência, preferindo os resumos. Sua curiosidade intelectual se igualava a uma inquietação gastronômica, e o que parecia inteligência era só disputa por prestígio e vanglória...

Se voltasse, o quase centenário estudioso teria a chance de conhecer, então, esse novo saber. Por enquanto, ele está mais bem adaptado ao clima e à geografia do Rio, mas floresce também em São Paulo, uma cidade mais vetusta, razão por que os antropólogos da maldade, por aqui, costumam se esconder dentro de batinas – ainda que meramente simbólicas – e se entregam a folias físicas e metafísicas com seus "correrias" de estimação. Quando Lévi-Strauss conheceu os índios bororos e nhambiquaras (os de verdade), sabia estar lidando com civilizações que estavam em outro estágio do domínio da natureza, mesmo para os padrões do Brasil, que já lhe pareceu, à sua maneira, tão primitivo, com suas cidades que iam do nascimento à decadência sem conhecer o apogeu.

Ele jamais demonstrou qualquer simpatia pelos grupos que estudou. Constituíam o seu material de trabalho. Bastava-lhe identificar as estruturas, o conjunto de relações, que fazem com que as sociedades sejam o que são – à sua maneira, de fato, cada uma delas encerra um mundo completo e dinâmico. Assim, é perfeitamente possível supor que a cultura ianomâmi seja eficiente para... um ianomâmi. E só outro indivíduo do mesmo grupo é capaz de propor questões pertinentes que mudem a sua história. Veja como sou multiculturalista hoje em dia. Mas, confesso, no tempo de padre Anchieta, meu negócio era catequizar a bugrada.

Para os antropólogos da maldade, os morros e as periferias são civilizações independentes, com estruturas simbólicas definidas pelos indivíduos das tribos, e a postura progressista de um estudioso implica deixá-los entregues à sua própria dinâmica, à sua cultura, a seus valores. Mais do que isso: "eles" teriam algo a nos ensinar, assim como se supõe, ainda hoje, que os silvícolas – veja como sou antigo – podem nos abrir as portas da percepção para a generosidade, a convivência pacífica com a natureza, a igualdade, o associativismo... Poucos se dão conta de que ser índio pode ser chato, difícil e cruel. O Brasil adotou o "bom selvagem" de Rousseau (1712-1778) – o "suíço, castelão e vagabundo", como o chamou o poeta português Fernando Pessoa –, mas não deu a menor bola para as ironias do livro Cândido, de Voltaire (1694-1778), este, sim, um francês legítimo, que fez pouco caso da idéia de um homem em harmonia com a natureza.

A periferia e o morro não são o centro. Continuarão a ser o morro e a periferia, e seus "valores" particulares não são senão a manifestação de uma utopia regressiva de basbaques ideológicos que imaginam converter um dia a linguagem da violência em resistência política. Aquela gente não é o "outro". Aquela gente somos nós, só que "sem fé, sem lei e sem rei": sem esperança, sem estado e sem governo.

Mas você sabe: eu sou muito reacionário. Progressistas são os antropólogos da maldade, desbravadores das veredas que levam à terra dos mortos.

20 novembro, 2007

Não se perde a liberdade de uma só vez

Paulo Guedes
O Globo 19/11/2007



É respeitável o esforço de Hugo Chávez em sua tentativa de criação de uma sociedade "bolivariana". São compreensíveis sua impaciência com antigos colonizadores e seu desprezo por uma elite política local que falhou na remoção da miséria.

Afinal, registra o economista sueco ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1974 Gunnar Myrdal, em seu provocante livro "Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas" (1956), "como expressão de um ideal, a doutrina da igualdade entre os seres humanos merece nosso pleno apoio. Neste mundo que se caracteriza há séculos por grosseiras desigualdades e dominado por interesses que procuram preservá-las, manifestando-me a favor do ideal da igualdade de oportunidades, apenas me alinho às aspirações morais da civilização ocidental".

Myrdal atenuaria o incidente de Chávez com o rei Juan Carlos na Cúpula Ibero-Americana: "O acesso de governos de países pobres à tribuna das várias organizações internacionais garante a propagação de um fato perturbador: a miséria dos pobres se apresenta aos ricos como ameaça à sua própria segurança. Creio que a função mais importante dessas organizações nesta fase da História mundial é propiciar aos países pobres a oportunidade de expressar sua insatisfação."

Myrdal se tornou notável por sua denúncia das tendências de agravamento das desigualdades inerentes aos processos econômicos e sociais. Mas destacava também sua outra principal premissa ou juízo de valor: o princípio de adesão à democracia política. "Por toda parte, a conquista da democracia provoca a demolição gradual da ignorância."

Portanto, torna-se também oportuna a clássica advertência do outro ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1974, Friedrich A. Hayek, em "O caminho da servidão" (1944), que dedicou "aos socialistas de todos os partidos", sem nenhum traço de ironia.

"A conciliação do socialismo com os métodos democráticos pertence ao mundo das utopias.
Socialismo não é o caminho para a liberdade, e sim para ditaduras a favor e contra. Um caminho para a guerra civil da mais furiosa espécie. A ascensão do nazismo e do fascismo não foi apenas uma reação contrária às tendências socialistas do período precedente, e sim uma conseqüência dessas tendências. A transição do socialismo ao nacional-socialismo ou ao fascismo foi inevitável."

"É um erro considerar o totalitarismo um movimento irracional, sem alicerces intelectuais. Nada é mais distante da verdade. É o ápice de um longo processo evolucionário. Na Alemanha antes de 1933 e na Itália antes de 1922, comunistas e nazi-fascistas se chocavam entre si com maior freqüência do que com outros partidos. Competiam pelo mesmo tipo de mentes, dedicando ao antagonista o ódio reservado aos hereges. Representando pólos opostos no aparente espectro político, eram apenas as duas faces das mesmas tendências totalitárias."

Lembrando que nos tornamos mais sábios "quando reconhecemos que muito do que já fizemos foi insensato", Hayek recorre ao filósofo David Hume para formular o alerta: "É muito raro que a liberdade seja toda perdida de uma só vez."

24 setembro, 2007

Brasil é o 40º melhor país para morar

O Brasil é o 40º melhor país para se viver no mundo, de acordo com um ranking encabeçado por Finlândia, Islândia e Noruega e publicado na edição de outubro da revista americana Reader's Digest. A lista foi elaborada pela publicação a partir da análise de indicadores de qualidade ambiental e de vida, com o objetivo de descobrir os melhores países em termos ambientais, mas nos quais "as pessoas possam prosperar". O ranking também levou em conta fatores sociais, como educação e renda.

Os quatro primeiros lugares do ranking foram dominados por países escandinavos: Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia; seguidos por Áustria, Suíça, Irlanda, Austrália, Uruguai e Dinamarca. Além do Uruguai, o Brasil ficou atrás de vários outros países da América Latina: Argentina (27ª), Costa Rica (34ª) e Cuba (36ª). No entanto, o país ficou à frente do Chile (43º), do Paraguai (44º), do Peru (52º), da Colômbia (53ª), do México (63º), da Venezuela (68ª), do Equador (69º) e da Bolívia (75ª).

Melhores cidades

Os mesmos parâmetros foram aplicados pelos repórteres da Reader's Digest para a criação de um ranking de cidades. Neste ranking, de 72 cidades, novamente, quem lidera são os países nórdicos, mas a Alemanha tem o maior número de cidades entre as dez melhores. Estocolmo (Suécia) e Oslo (Noruega), lideram a lista, seguidos por Munique (Alemanha), Paris (França), Frankfurt e Stuttgart (Alemanha), Lyon (França), Düsseldorf (Alemanha), Nantes (França) e Copenhague (Dinamarca). Na lista das cidades, o Brasil entra em 54º, com Curitiba. São Paulo é a única outra cidade brasileira a entrar no ranking, entre os dez últimos, no 62º lugar.

14 setembro, 2007

Vai de táxi ou de carro? Veja o que sai mais barato

RIO - Com a taxa de juros da economia em queda, facilidades de crédito, e consumo cada vez mais estimulado por promoções bate aquela enorme vontade em quem nunca comprou um automóvel de se arriscar na aventura. O consumidor então faz as contas, procura concessionárias, economiza nos gastos e, quando vai comentar os planos com um amigo, recebe aquele balde de água fria: "carro é igual e filho e andar de táxi sai muito mais barato".

Mas, será que isso é verdade? Até que ponto vale a pena comprar um carro ou andar no rastro de um taxímetro? Depende. Nas contas professor e coordenador do MBA em Finanças do Ibmec, Roberto Zentigraf, que tambem é blogueiro de O GLOBO ONLINE, o consumidor tem que levar em conta uma série fatores antes de tomar a decisão, como gastos relativos à compra de um automóvel, IPVA, custo de manutenção, estacionamento, preço do combustível e quilometragem rodada diariamente.

O taxista Paulo Roberto do Nascimento, da Cooperativa Global Táxi, no Rio, garante ter, pelo menos, uma meia dúzia" de clientes que desistiram de manter um carro, venderam o automóvel e agora andam de táxi.

- É mais cômodo, o cliente não tem gastos com manutenção, estacionamento e gasolina e ainda pode descer na porta do local onde deseja ficar, sem ter que procurar vaga para estacionar. Sem contar que fica menos sujeito a problemas de roubo ou assalto - diz.

A estudante Graziella Cardeal nunca colocou os gastos na ponta do lápis, mas é adepta, com convicção, da dobradinha transporte público e táxi.
- Só de pensar que carro exige seguro, IPVA, gasolina, pagar estacionamento onde quer que você vá... Fora as ocasionais revisões e consertos. Ainda mais se for carro usado, o que seria o meu caso - justifica.

A pedido do Globo Online, Zentigraf resolveu colocar os gastos - e os argumentos - na ponta do lápis. E chegou à seguinte conclusão: no Rio, para quem percorre até 30 quilômetros por dia, andar de carro sai por R$ 1.774,25 ao mês. De táxi, o mesmo percurso custa R$ 1.359,50 - ou seja, é 23% mais econômico. Já em São Paulo, o mesmo trajeto custaria R$ 2.308,60 de táxi.

- A conclusão é que, para quem faz este percurso, no Rio de Janeiro é melhor andar de táxi e, em São Paulo, de carro - diz Zentigraf. Para quem anda 60 quilômetros por dia no Rio, o gasto mensal com o carro é de R$ 2.163,50. De táxi, o custo seria de R$ 2.491,10 - ou seja, um valor 15,14% mais caro. Já em São Paulo, para esta mesma quilometragem, o gasto seria de R$ 4.431,70.

- No Rio compensa andar de táxi para quem roda até 47Km/dia aproximadamente. Já em São Paulo, compensa andar de táxi para quem roda até 21Km/dia - conclui.
Fonte: Jornal Extra

29 julho, 2007

Senado contra democracia

Dalmo Dallari (Jornal do Brasil, 07/07/07)

O modelo de Senado incorporado ao sistema político brasileiro pela Constituição de 1891 surgiu no momento em que as antigas colônias inglesas da América estavam definindo a forma de governo do novo Estado, resultante da independência das ex-colônias. Qual terá sido a verdadeira razão para a criação de um Legislativo bicameral, se o que importava era a existência de um Legislativo que expressasse a vontade do povo? Não bastaria uma só Câmara, a dos Deputados, para a garantia do caráter democrático do governo? Uma das alegações para a criação da segunda Câmara foi que os Estados do Sul eram muito menos populosos e se fosse aplicada a regra democrática "um eleitor, um voto" os Estados sulistas elegeriam um número muito menor de deputados e ficariam em minoria no Legislativo. Por isso, como alguns argumentaram, era necessário que houvesse uma segunda Câmara, na qual todos os Estados tivessem igual número de representantes, podendo, assim, neutralizar a vantagem numérica dos Estados mais populosos na Câmara dos Deputados. E assim surgiu o Senado, cujos membros representantes dos menores Estados são eleitos com um número de votos muitas vezes inferior ao que é necessário para a eleição dos deputados estaduais dos Estados mais populosos.

Comentando essas características do Senado, Robert A. Dahl, professor da Universidade de Yale chega a uma conclusão muito esclarecedora: o Senado foi criado para os senhores de escravos, que correriam o risco de ver extinta a escravidão se uma decisão em tal sentido dependesse apenas da Câmara dos Deputados. O conjunto dos senadores dos Estados escravocratas daria número suficiente para impedir que se convertesse em lei uma proposta abolicionista aprovada na Câmara dos Deputados. Falou-se, naquela ocasião, que o Senado era necessário para a proteção das minorias, mas quem recebeu a proteção, segundo observa Dahl, foram as minorias privilegiadas. Graças ao artifício da criação do Senado, a escravidão negra durou ainda 80 anos nos Estados Unidos, convivendo com uma Constituição inspirada em princípios liberais e democráticos. Muito significativamente, a obra de Dahl em que são feitos esses comentários denomina-se How democratic is the american Constitution?, ou seja, quão democrática é a Constituição americana. Com base nessas considerações ele conclui que o Senado, pelo processo de escolha de seus membros, é um componente não democrático da Constituição dos Estados Unidos. Outro estadunidense estudioso dos sistemas políticos, Alfred Stepan, cujo trabalho é referido por Dahl, abordou a mesma questão e fez um estudo comparativo, observando que os dois senadores do Estado de Connecticut representavam 3,4 milhões eleitores, enquanto os dois senadores do Estado de Nova York representavam 19 milhões de eleitores. O Estado de Nevada, que no ano de 2000 tinha 2 milhões de habitantes, contava com dois senadores para representar seus interesses, na mesma ocasião em que o Estado da Califórnia, com 34 milhões de habitantes, só contava, também, com dois representantes no Senado. Concluindo a comparação, Stepan assinala que a maior desproporção na representação dos Estados estava no Brasil, na Argentina e na Rússia.

O Brasil precisa, realmente, de um Senado para proteger minorias? Além da desproporção evidentemente antidemocrática já assinalada, a escolha dos senadores brasileiros apresenta ainda outra distorção grave, que é a escolha conjunta de um suplente para cada senador, com a peculiaridade notória que na maioria dos casos os eleitores não têm a mínima idéia de quem seja o suplente, que freqüentemente é um parente próximo ou um subordinado ou associado do candidato a senador. Por todos esses motivos, bem como pela circunstância, também evidente, de que o Senado, em grande número de casos, tem-se caracterizado como um reduto de oligarcas protetores de seus interesses nos respectivos Estados, é mais do que tempo de se abrir uma discussão ampla sobre o papel do Senado no sistema político brasileiro, a fim de que sejam adotadas mudanças fundamentais, de caráter democrático e moralizador.

24 julho, 2007

A sindrome da incompetência generalizada (Jabor - 24/07/07)

A sordidez do que acontece no Brasil é tal, que até criticar o governo só serve para legitimá-lo. Este governo não merece nem uma critica à ‘luz da razão’. Tem de ser analisado como um exame de patologia clinica. Estamos sendo infectados por uma doença histórica. Chama-se a ‘sindrome da incompetência generalizada’. Ou então, “falência multipla dos órgãos públicos”.

Esta doença se espalha a partir do centro do Executivo, do topo da pirâmide de poder. Lula foi a bandeira de bolchevistas e intelectuais durante décadas. Era a esperança do velho populismo e dava um rosto operário concreto aos ideólogos. Controlado pelos comandados de Dirceu, acabou eleito pela habilidade realista de um publicitário. Com a intervenção salvadora de Jefferson, Lula criou sua propria doutrina, que hoje se derrama sobre todos os aparelhos do Estado e se infiltra, pelas alianças, nos outros poderes. As caracteristicas dessa doença que infecta o pais são oriundas de uma vasta cepa de germes históricos e ideológicos. Há uma cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo com ecos stalinistas, que se cruzou com o germe do sindicalismo oportunista, com o stafilococus do populismo pos-getulista, formando um novo tipo de micróbio que, com a baixa imunidade da democracia representativa, se espalha de forma profusa e letal. Esta doença grave fica muitas vezes dissimulada pela figura de Lula, com seu carisma de simbolo, assim como certas febres podem levar à alucinações enganadoras.

Lula não ama o povo. Ao contrario, quer ser amado por ele. A recente vaia que o ‘magoou’, feriu-o por ele se sentir uma especie de pioneiro da ascençaõ social , que ele diz desejar para todos. Aliás, a crença de que o homem ‘de esquerda’ pensa no ‘bem’ real do povo é mais uma falácia herdada da tradição. Stalin amava o povo? O povo é visto pelos totalitários como uma ‘massa’ (nome usado por eles) a ser moldada como uma maquina humana se reproduzindo sempre, obediente a lideres. O ‘povo’ não é visto como seres para brilhar ou florescer, mas para serem controlados. O recente ‘top top’ do velho Marco Aurelio é a metafora simétrica da vaia: “vão ter de nos engolir!” – a opinião pública e a imprensa, o inimigo maior...

Outra carateristica dessa anomalia é sua espantosa incapacidade administrativa. A ideia de ‘competência’ é vista com desconfiança, inclusive teoricamente, como já foi relatado por intelectuais como Marilena Chaui, porque a competência técnica pode “encobrir um desvio neo-liberal, de direita”. ‘Administrar’ é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar, coisa de capitalistas. A incompetencia paralitica deste governo é uma mistura esquisita de restolhos de slogans socialistas com uma adesão custosa e desconfiada ao nosso sub-capitalismo, a não ser nas regras ‘macro’ que FHC deixou, em que Lula, por instinto, não mexe.

Essa ambiguidade paralisa processos e projetos. Nosso Estado quebrado não pode fazer ‘desenvolvimentismo’ e a desconfiança congênita na iniciativa privada impede o crescimento. Só respeitam os bancos e os grotões eleitorais. Isso, misturado a uma vaga idéia de ‘futuro’ que habita a tôsca cabeça dos sindicalistas oportunistas e velhos ‘bolchevos’, cria uma desvalorização do ‘aqui e agora’, como se o ‘presente’ fosse algo desprezivel. Assim, tudo fica parado no ar, nada sai do papel. As promessas e os anuncios bastam; a realização é supérflua.

Sem falar na infecção do baixo aliancismo - o que faz a roubalheira ser vista quase como um mal necessário e inevitavel (‘ôba!’), o que permite a predação da República com a consciencia limpa.

Também a invasão de cargos técnicos por hordas de sindicalistas sem preparo, ignorantes, gera a infecção da burocracia labirintica. A confusão mental e a obsessão paranóica da ‘conspiração’ cria mecanismos de defesa que impedem qualquer eficiência, em nome de uma vigilancia contra os inimigos (nós). Assim, nada anda com o passo eficaz do capitalismo. Em dez meses de caos aéreo, com 354 mortos, só agora se tocaram para o óbvio de medidas anunciadas e que, talvez, nem sejam cumpridas. A isso, claro, some-se o caráter preguiçoso e deslumbrado do Lula, que se declina por todos os escalões do Estado , como uma degeneração de qualquer fé ou iniciativa. Se o comandante berra “dane-se!”, todos depõem suas armas. Alem de não saber o que fazer, Lula não tem saco para nada. Sua atitude de se colocar acima da politica cotidiana desqualifica a propria politica, como sendo coisa menor, o que é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos.

Por outro lado, como a economia mundial é favoravel, temos a impressão de saúde e os danos ficam ocultos, e só ficarão claros com a próxima crise. Em vez de ser usada, a economia mundial esta sendo abusada, como uma droga entorpecente. Pela ausência de projetos, resta aos donos atuais do poder manter comprado o apoio das ‘massas’, com bolsas-familia e aumentar gastos públicos em contratações e falsas iniciativas. Tudo que tinha de ser reformado, não o será, pois ‘reforma’ repugna revolucionários.

É isso ai. Tudo que o governo anterior introduziu e que poderia nos fazer avançar foi paralisado. Estamos diante de um grave retrocesso histórico. A tragédia de Congonhas é uma metafora sinistra de nosso momento: o avião estava muito veloz para frear e muito lento para arremeter. Como o Brasil. Não só nada avança, como o que antes funcionava está quebrando. Além disso, os germes cruzados com muitas cepas, fortalecidos por décadas de superstições populistas são muito resistentes. Não há antibiótico conhecido contra estes micróbios. Nenhum, muito menos o PSDB, que morreu, contaminado por si mesmo.

Arnaldo Jabor, jornalista

13 junho, 2007

O Bonapartismo-Vaselina (Jabor - 12/06/07)

Muita gente pensa: ‘Por que o Jabor está criticando o Lula? O governo está aparentemente funcionando. A inflação não voltou. Não há crises, a não ser os escândalos no Parlamento e de empreiteiros. Os juros baixaram mais um pouco. A produção industrial vai bem. Que mania de implicar com o Lula…'

Não critico o que ele está fazendo. Mas, critico-o, sim, pelo que ele poderia estar fazendo e não faz.

Lula assentou-se no poder e decretou tacitamente que está tudo bem, que o Brasil está indo para a frente. Ele não quer atrapalhar sua chance deslumbrada de governar ‘numa boa’, sem marolas e sem aporrinhações. Ele quer curtir seu mandato, com calma, luxo e volúpia, como um estadista sueco ou dinamarquês. Para ele, tudo navega na normalidade. Ele não é nem regressista como queriam os bolchevo-dirceuzistas que o cercavam e que ele teve a sorte de perder. Ele é conservador mesmo. Apoiado na estabilidade econômica que a política de FHC lhe legou, navegando na bonança da economia mundial, não fez reforma nenhuma complementar que o Plano Real demandava, demonizou e abriu mão de privatizações urgentes, e ficou se contentando com lugares-comuns de estadistas democratas como ‘quem errar deverá ser punido…’ ou ‘cada país tem seu nariz… se Chávez acha que deve fechar a TV, problema dele…’ Aceita a tutela do PMDB e usa uma linguagem com resquícios de esquerda, exala uma tranqüilidade britânica e vai saboreando as delícias de seu mandato, acima das mesquinharias da política real, como se vivesse acima de nós.

Suas ações de governo são planos que ainda não saíram do papel, como o fabuloso PAC, empacado, e que já ia começar infestado pelas traças dos‘zuleidos’ que os aliados protegem, já preparando novas pontes para o nada e escuridões para todos. Nada se faz e tudo se promete. Ele tem alguns ministros bons, como o Hadad, o Meirelles, o ministro da Saúde, a Dilma que trabalha feito uma leoa, mas nada aparece. O Estado não tem dinheiro para executar nada, pois as reformas não se fizeram. Os cortes das despesas públicas não foram feitos. Ao contrário, aumentaram. Há mais de 100 mil contratados. As coisas não se concretizam. Já estamos assim há cinco anos.

Não é que ele esteja fazendo desmandos, ou cometendo os vergonhosos depoimentos que deu durante a crise dos mensalões. Não. Mas, sinto um desânimo de criticar ou denunciar qualquer coisa. Penso em ligar para outros colunistas e perguntar: ‘E aí, Dora Kramer, você está sentido o quê? E aí, Merval Pereira? Você não está com gosto de cabo de guarda-chuva na boca?

Afinal, qual é o projeto do lulismo? Talvez eles respondam: ‘União de todos para o bem da imagem do Lula em nossa história.’ Só.

O lulismo esvazia nossa indignação, nossa vontade de crítica, de oposição. Para ser contra o que, se ele é ‘a favor’ de tudo? Há uma calma no Lula que nos anestesia. Há uma normalidade no ar que inquieta, sinistra como o prenúncio de tempestade, que virá para o próximo governante. Lula não erra, porque não faz nada. Ostenta uma sensatez equânime, sempre que instado pelos ansiosos que querem mudanças, providências… Nada o comove. Só se comove consigo mesmo, com a própria origem operária. Aí, chora.

Lula desmoralizou os escândalos, vulgarizou as alianças, subverteu tudo, inclusive a subversão. Os comunas xingam-no ‘na moita’, pois estão todos bem empregadinhos. E nós estamos aprendendo a querer pouco.

Lula se apropriou da ‘cordialidade’ tradicional para esvaziar resistências. Ele põe qualquer chapéu. Ele é ecumênico: todas as religiões podem adorá-lo.

E aí? Como nomeá-lo? Não sei, mas acho que estamos assistindo a uma nova forma de bonapartismo. O bonapartismo tradicional representa uma concepção de poder vertical, em torno de uma liderança carismática, cuja legitimidade se funda numa vontade do povo do qual ele seria o representante, acima dos políticos. Em geral, isso leva a autoritarismos, como em Perón, Alvarado, e mesmo Chávez, que é mais um ditador fascista.

Mas, Lula não é autoritário como foi, digamos, Napoleão III. Mas, Lula aos poucos, secretamente, talvez até sem ter consciência (eu concedo), se beneficia da lama do Legislativo que vai consolidando sua liderança ‘pura’ e solitária, acima de suspeitas, mesmo se o irmão rouba ou o filho fica rico.

Mas, tudo isso ele faz com seus sorrisos de covinhas, com sua imensa simpatia. Lula nos faz crer em uma normalidade institucional, através de seu poder carismático que anula a oposição e tira a identidade da situação.

Ele respeita os privilégios da burguesia financeira, não faz as urgentes reformas capitalistas, como privatizações, concessões de estradas, aeroportos, e mantém o proletariado no cabresto das bolsas assistencialistas.

Estamos assistindo a um bonapartismo de manteiga, a um bonapartismo de vaselina. Em vez de Napoleão III, que desceu o pau no blanquismo em 1851, a esquerda de Lula se desfez sozinha, tanta é sua sorte. E em seu lugar ficou um sindicalismo pelego e satisfeito. E estamos assim. A crença em qualquer punição acabou. O cinismo se instalou. Os crimes do Congresso ficarão sob seu beneplácito de superaliado. Lula não lutará contra nada. A reforma política não virá, reforma nenhuma virá. O fim da Comissão de Orçamento não virá. As emendas individuais ou de guarda-chuva não acabarão jamais. Ele não lutará por sua extinção, razão maior de nossas roubalheiras endêmicas. Tudo se resolverá sozinho, ele parece dizer. Acabou a Oposição que não sabe mais a que se opor. A Situação não tem cara, não tem identidade.

E no meio, só ele, um messias sem programa, um messias de si mesmo. O que dói é imaginar o que Lula poderia fazer, com maioria no Legislativo e este oásis econômico mundial.

Chego a ansiar por uma crise… juro… Coitado do próximo governante…

12 junho, 2007

Aviso aos quarentões (Stephen Kanitz)

"Aos 40 anos ainda se tem chance de pouparrapidamente os recursos necessários para aaposentadoria nos próximos dez a quinze anos.Assim sendo, aquela viagem programada paraa Disney, nem pensar. Nem aquele Audi A4"

Para aqueles que estão chegando aos 40 anos, eu tenho duas notícias: uma boa e uma péssima. A boa é que você provavelmente viverá até os 80. Sua expectativa de vida ao nascer era de 67 anos, mas, como você conseguiu chegar vivo aos 40, sua média de vida aumentou para 74 anos. Aqueles que estavam reduzindo sua média inicial morreram. Daqui a dez anos, muitas das doenças incuráveis de hoje terão solução, aumentando ainda mais sua expectativa de vida, talvez até os 80. Sua mulher, que já tinha expectativa de vida ao nascer de 75 anos, aos 40 terá uma expectativa de 79, daqui a dez anos irá para 85, 90 anos.

A má notícia é que provavelmente você não pensou nisso, não se preocupou em fazer um pé-de-meia para custear essa longa aposentadoria, a sua e a de sua mulher. Nem percebeu que os vinte anos que você contribuiu para a Previdência não foram depositados num fundo previdenciário público, preservando o equilíbrio atuarial, como reza o artigo 201 de nossa Constituição. Também, lamento dizer, ninguém vai empregá-lo até os 70 anos de idade, e será difícil achar um novo emprego depois dos 50. Não conte com essa nova geração para sustentá-lo na velhice. Ela terá problemas suficientes para sobreviver, além de ter também de poupar para a própria velhice.

Aos 40 anos ainda se tem chance de poupar rapidamente os recursos necessários nos próximos dez a quinze anos. Assim sendo, aquela viagem programada para a Disney, nem pensar. Nem aquele Audi A4. O valor exato que você precisará ter poupado para se aposentar aos 65 anos é um cálculo complicadíssimo, depende de sua idade atual, do risco que você quer assumir em suas aplicações financeiras, dos juros médios a partir de 2015, e da taxação futura dos rendimentos de seus investimentos. Mas aqui vão algumas previsões, que infelizmente ninguém divulga, mas que podemos considerar como praticamente certas.

1) Com o investment grade (grau de investimento seguro, segundo as agências internacionais de classificação de risco), os juros reais no Brasil deverão ser como no México, na França e nos Estados Unidos. Algo em torno de 2,5% a 3% ao ano, a partir de 2015. Achar que você poderá investir em títulos públicos e ganhar 6% a 7% ao ano sem risco é uma doce ilusão.


2) O imposto de renda que incide sobre os que poupam, os chamados "endinheirados", provavelmente aumentará. Hoje é de 20%, mas logo será de 25%, justamente porque o juro caiu, e o governo arrecadará menos.

3) Esse imposto incide sobre o "juro" nominal, e não sobre o juro real, que é o verdadeiro juro. Se o juro real for igual à inflação, o imposto vai para 50%, o dobro dos 25% esperados no futuro. Portanto, calculando-se 50% de imposto sobre 2,5% a 3% de juros, sobrará somente 1,2% a 1,5% ao ano de rendimento. Para cada 1.000 reais de renda mensal de aposentadoria que você desejar receber, precisará acumular no mínimo 1 milhão de reais. Lamento muito, é só fazer as contas.

Uma aposentadoria de 10.000 reais por mês exigirá uma poupança acumulada aos 65 anos em torno de 10 milhões de reais. Dez mil é a aposentadoria típica de um professor titular de filosofia, sociologia, economia de uma universidade pública. Há alguns que ganham até mais.
Se você quiser ganhar o mesmo, terá de acumular 10 milhões, que aplicados a 1,2% ao ano darão 120.000 por ano, ou 10.000 por mês. Mesmo assim, sem direito ao décimo terceiro salário.

É óbvio que nenhum de nós vai conseguir acumular 10 milhões, muito menos se aposentar com 10.000 por mês. Você terá de se contentar em viver com 3.000 ou menos. Provavelmente terá de aplicar seu dinheirinho em investimentos muito mais arriscados do que títulos públicos. Terá de lutar pela redução do imposto de renda que incide sobre juros, pela correção monetária do investimento inicial, ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Uma terceira alternativa é ir literalmente comendo o capital inicial ao longo do tempo. O que é muito assustador para qualquer aposentado – nunca se sabe quando o dinheiro poderá acabar. Pior de tudo, você terá de estabelecer um ano preciso para morrer, tipo 83 anos, e torcer para que não passe disso. Depois desse aniversário, justamente pelos cálculos feitos, você não terá mais dinheiro.

A outra opção é arrumar uma boa aposentadoria do governo, adotar um discurso anti-renda, antijuro, antiacumulação de riqueza, sem se preocupar com o futuro do câmbio, da economia, muito menos com o futuro do Brasil
.

16 abril, 2007

Fortune 500: As 10 mais

1. Wal-Mart Stores
2. Exxon Mobil
3. General Motors
4. Chevron
5. ConocoPhillips
6. General Electric
7. Ford Motor
8. Citigroup
9. Bank of America
10. American International Group

1. Wal-Mart Stores
Fortune 500 rank: 1 (Previous rank: 2)

2006 Revenues (millions): $351,139
Headquarters: Bentonville, AR
The retail giant reclaims the top spot on the Fortune 500, making it the largest company in the United States for the fifth time in six years. The company suffered a series of public relations gaffes last year, but has launched a crusade to spruce up its image. It now employs 1.9 million people worldwide and revenues are up 11% over last year, but profits grew less than 1%, amid a slowdown in same-store sales.

2. Exxon Mobil
Fortune 500 rank: 2 (Previous rank: 1)

2006 Revenues (millions): $347,254
Headquarters: Irving, TX
Though it's not No. 1 this year, the oil giant remains the most profitable company in the Fortune 500, with $39.5 billion in 2006 earnings, thanks to record crude oil prices in 2006. Revenues are up 2% over last year. Profits jumped 9%. The outfit is a leader in energy exploration, with projects in Africa, Russia and the Persian Gulf.

3. General Motors
Fortune 500 rank: 3 (Previous rank: 3)

2006 Revenues (millions): $207,349
Headquarters: Detroit, MI
In a year that saw GM sell a majority stake in its most profitable unit, GMAC, and had tens of thousands of factory workers take large payouts to leave the company, the world's largest automaker made progress in its turn-around efforts. Still, the company posted a $2 billion net loss, and has yet to break even in its core North American auto operations.

4. Chevron
Fortune 500 rank: 4 (Previous rank: 4)

2006 Revenues (millions): $200,567
Headquarters: San Ramon, CA
Chevron's merger with Unocal was finalized in 2006, helping to give the oil giant a banner year, with $17.1 billion in earnings. Chevron boosted its reserves by 950 million barrels, and results were also helped by new oil production in Angola. Revenues are up 6% over last year. Profits jumped 22%.

5. ConocoPhillips
Fortune 500 rank: 5 (Previous rank: 6)

2006 Revenues (millions): $172,451
Headquarters: Houston, TX
The company managed to boost profits by 15%, to $15.5 billion, on only 4% revenue growth. But with corroded pipes and bad weather disrupting production and transportation at its drilling operations in Alaska, the company struggled to replenish reserves. Of the 2.5 billion barrels that it added, all but 100 million of them were from acquisitions.

6. General Electric
Fortune 500 rank: 6 (Previous rank: 7)

2006 Revenues (millions): $168,307
Headquarters: Fairfield, CT
Thanks to a strong performance by NBC, and healthy sales in its medical equipment, turbine and engine units, the conglomerate's profit rose by 27% last year. Two restatements out of its financial services unit were cause for concern, but the juggernaut that Jack Welch built continues unbowed.

7. Ford Motor
Fortune 500 rank: 7 (Previous rank: 5)

2006 Revenues (millions): $160,126
Headquarters: Dearborn, MI
Like rival GM, Ford is also in the red this year, by a whopping $12 billion. In 2006, CEO Bill Ford Jr. stepped aside to let former Boeing CEO Alan Mulally tinker with the company's big problems. Revenues fell 10% from last year, making Ford the only company in the top 50 to see a decrease in sales, bumping the carmaker down two notches on the list.

8. Citigroup
Fortune 500 rank: 8 (Previous rank: 8)

2006 Revenues (millions): $146,777
Headquarters: New York, NY
As operating expenses ate up new revenue, profits fell by 12% at the banking giant, which trailed the other Wall Street firms last year with a lagging stock price. A management shakeup ensued, with CEO Chuck Prince naming Robert Druskin as COO in December. Prince later removed Sallie Krawcheck as CFO, who became head of the company's global wealth management division after that unit's chief, Todd Thompson, quit abruptly. In April, the company announced plans to cut 17,000 jobs.

9. Bank of America Corp.
Fortune 500 rank: 9 (Previous rank: 12)

2006 Revenues (millions): $117,017
Headquarters: Charlotte, NC
Bank of America just keeps getting bigger and bigger - it now has 9% of the nation's savings on deposit. Last year's $35 billion acquisition of credit-card issuer MBNA helped the growing financial services company see revenues jump by 39%. Profits increased by 28% to $21.1 billion.

10. American International Group
Fortune 500 rank: 10 (Previous rank: 9)

2006 Revenues (millions): $113,194
Headquarters: New York, NY
Having put its 2005 accounting woes behind it, the insurer is back on track with revenues growing 4% last year. A 20% reduction in property and casualty claims, which in the previous year had escalated because of hurricanes Wilma and Katrina, helped profits jump 34%.

21 março, 2007

Is The Party Ending For Wireless?

Clayton M. Christensen, Scott D. Anthony and Alex Slawsby 03.20.07, 6:00 AM ET

The last two decades have been good for cellular phone companies like Verizon Wireless, T-Mobile and AT&T. Demand for mobile phone and e-mail services has risen dramatically, and profits have followed suit.

Carriers have found more and more creative ways to boost revenue. The once-humble cellphone has become an entertainment hub that takes photos, sends e-mails and plays songs, all to the benefit of wireless operator bottom lines. Case in point: Verizon Wireless' net income has grown at a compound rate of 33% a year since 2003, hitting $9.6 billion in 2006.

Signals suggest, however, that wireless providers who aren’t careful might find themselves victims of a devastating disruptive assault from emerging technologies and business models. It may seem strange to suggest that seemingly dominant incumbents should worry about currently invisible attackers. But if history is any guide, it's not strange at all.

In industry after industry, seemingly trivial entrants have used the power of disruptive innovation to drive change. In the wireless industry, disruptive attackers--ranging from start-ups like Blyk and FON to more established companies like Google (nasdaq: GOOG - news - people ) and Skype--are now building momentum with incumbent wireless carriers in their sights.

Ironically, the wireless industry’s history traces back to disruptive innovation. The first mobile phones had low voice quality, limited battery life, were bulky and expensive. But they offered something that land line telephones could not match: The capability of placing and receiving calls while mobile.

Quality has steadily improved, and customers are increasingly choosing the convenience of wireless technologies over the rock-solid reliability of their land line phone. Since 2001, more than 25 million landlines were discontinued domestically in favor of the use of wireless telephony.

And yet, substantial evidence suggests that the cellular wireless operator industry in the U.S. may now find itself the "disrupted," rather than the "disruptor."

History has shown that disruption is most likely when supply-driven and demand-driven forces intersect.

On the supply side, disruption tends to occur when the pace of technological progress “overshoots” the level of performance that customers are able or willing to consume.

There are signs that wireless operators have overshot the mainstream market. Despite billions of dollars invested in network upgrades, only one out of every three domestic wireless subscribers presently utilize “2.5G” services such as multimedia messaging and ring tone downloads. Despite the hype surrounding third-generation (3G) wireless connectivity, fewer than 10% of domestic wireless subscribers utilize 3G services such as music downloads or streaming video. It is possible that wireless providers are supplying too much performance for the mainstream market.

On the demand side, disruption occurs when entrants use new technologies and business models to throw market-leading incumbents off balance.

The combination of the dramatic growth of new wireless Internet access technologies such as WiFi, the ability to use Voice over Internet Protocol (VoIP) to make voice calls and the potential rise of companies willing to give away wireless service makes disruption a real possibility.

WiFi hotspots and municipal WiFi coverage have and will continue to explode. By 2010, more than 65,000 public WiFi hotspots are expected to be in place domestically, and spending on municipal wireless infrastructure is expected to exceed $500 million. Many emerging WiFi business models feature flat rate, unlimited usage pricing similar to home broadband.

On its own, the growth of WiFi threatens wireless carriers who are increasingly reliant on high-end services. Then consider what happens when emergent companies layer in VoIP over WiFi. Since VoIP translates voice communication into data, companies could charge a single flat rate that covers unlimited Web surfing, file downloading, e-mail and phone calls.

But wait, the disruption is just beginning. What happens if companies go beyond charging a low flat rate that undercuts wireless carriers? What if they actually give away wireless voice and data service?

Free wireless access for all may be the wave of the future. In January 2006, serial entrepreneur Martin Varsavsky launched FON, an open WiFi community where members agree to share their broadband Internet connections through WiFi access points in return for the ability to use the WiFi access points of other community members. Just one month later, FON received financial backing from Google, Skype and a number of prominent venture capital firms.

Then, in mid-November, Google CEO Eric Schmidt said more money could be made if cellphones were free and users spent more time online, viewing ads, playing games and downloading content. Around the same time, Pekka Ala-Pietila, once the president of Nokia (nyse: NOK - news - people ), and Antti Ohrling, CEO of the advertising agency Contra, announced plans to launch Blyk, the first free, ad-supported wireless carrier in Europe.

What's a wireless carrier to do? Companies like Verizon and AT&T (nyse: T - news - people ) should consider shifting focus to customer retention and away from profit maximization. Rather than always seeking to liberate the last dollar from customer wallets, they should seek to deliver exactly what customers want. Also, providers should consider creating separate organizations to experiment with new technologies and business models. If profitable, sustainable strategies emerge from these new organizations, companies should give them the resources they need.

While it is impossible to predict the future, preparation and pre-emption are both essential. By the time the disruptive forces are obvious, it is too late to respond.

20 março, 2007

A tese de Dilma (Stephen Kanitz)

"A ministra comprou uma briga e tanto e precisará de todo o apoio dos que querem ver o custo da renda fixa cair, obrigando os investidores a virar empreendedores e a assumir o risco da renda variável"

Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, tem apresentado uma tese que merece os aplausos de todos os administradores de esquerda deste país. É uma tese que defendemos há mais de quarenta anos. Dilma propõe reduzir os juros, não para recuperar a capacidade de investimento do estado ou para gastar no social, que é o discurso usual daqueles que se opõem aos juros elevados. Ela quer reduzir os juros para poder "reduzir o custo do capital social das empresas". Finalmente alguém se tocou do verdadeiro problema. O custo do capital no Brasil é alto porque os juros da dívida interna também são altos.

Se o estado paga 13% ao ano de "renda fixa" para "rolar" a sua dívida, nenhum projeto empresarial com retorno abaixo de 13%, 14% ou até 19% será retirado das gavetas. Nenhum administrador ou empreendedor vai assumir o risco de quebrar, o risco de perder tudo, o risco de processos trabalhistas e de consumidores, se o estado oferece 13% ao ano, e sem risco. A China reduziu o custo da "renda fixa" para 1%, o que permitiu a empreendedores e engenheiros desengavetar projetos simples, sem muita tecnologia, em que basta parafusar duas peças diferentes e nada mais, e por isso rendem 4% ao ano, barateando o preço de venda, que é tudo de que precisaríamos.

É a "renda fixa" que eleva a "renda variável e a taxa de retorno" dos empresários e acionistas. Por isso, no Brasil, só desengavetamos projetos que rendam no mínimo 19% ao ano, projetos com "elevado valor adicionado", projetos que exigem subsídios e renúncias fiscais, projetos com empréstimos subsidiados pelo BNDES, com "zonas francas fiscais", que requerem câmbio favorável e elevados investimentos em "ciência e tecnologia". Essas foram as grandes bandeiras dos nossos empresários "desenvolvimentistas" e de seus economistas, começando com Celso Furtado.

Era a única forma de conciliar o desejo desses economistas de capturar para o estado a quase totalidade da poupança nacional – o que exige do estado esses juros estratosféricos para serem renovados e subsídios empresariais para que haja crescimento. Tudo isso sob os aplausos da direita, que adora receber juros elevados sem ter de fazer nada, a risco zero. Com essa aliança diabólica, o juro real não cairá tão cedo.

Eu evito investir em "renda fixa" por uma questão ética. Não me sinto confortável em ganhar sem fazer nada, especialmente à custa do povo brasileiro. Sempre fiz questão de investir em ações, gerando crescimento e empregos, correndo o risco da volatilidade da "renda variável", o que me faz dormir tranqüilo quando recebo meu merecido dividendo. A tese de Dilma já foi aplicada com excelentes resultados no Brasil pelo administrador Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, que reduziu pela metade o custo de capital das empresas do Novo Mercado, do qual me orgulho de ser árbitro. Magliano foi eleito "administrador do ano de 2006", merecia um Nobel.

Ou seja, a tese de Dilma é viável, e nem falta vontade política para aplicá-la. Lula afirmou em seu discurso de posse que "nenhum país cresce se o custo do capital for alto". Frase que o jornalismo econômico obviamente ignorou e o jornalismo administrativo, inexistente neste país, não noticiou.

Do ponto de vista ético, chegou a hora de o estado devolver à sociedade o "capital social" que tomou emprestado, o trilhão que alguns desenvolvimentistas agora não querem devolver, o que mantém o juro e o custo do capital deste país elevado. Se o "capital social" for finalmente devolvido à sociedade nos próximos cinco anos, os juros da "renda fixa" cairão para 1%, como no resto do mundo, e deixaremos de ser os lanterninhas do crescimento.

Dilma comprou uma briga e tanto ao enfrentar essa aliança diabólica. Ela precisará de todo o apoio dos engenheiros, administradores, contadores, advogados, médicos que querem ver o custo da "renda fixa" cair, obrigando os investidores a virar empreendedores e a assumir o risco da "renda variável". Ela já tem o meu total apoio, agora só falta o seu.

10 março, 2007

O Insuportável Brilho dos Estados Unidos

Maria Lúcia Victor Barbosa - Socióloga

A vinda do presidente Bush ao Brasil, que muitos dizem com razão ser tardia para barrar a influência exercida por Hugo Chávez, suscita algumas reflexões sobre o agudo sentimento antiamericano existente na América Latina que, se sempre existiu, agora está exacerbado. O que motiva isso?

Por volta de 1700, as colônias que compunham os impérios espanhol e português pareciam sinalizar para um futuro rico e pleno de êxito se comparadas com as da América do Norte. Entretanto, fatores culturais ligados ao tipo de colonização e gerados ao longo do processo histórico conferiram destinos diferentes às Américas do Norte e do Sul.

Os Estados Unidos, de país agrícola produtor de matérias-primas trocadas por produtos industrializados, se converteram em potência industrial e na nação mais poderosa do mundo. Ao poderio industrial, financeiro e bélico os norte-americanos adicionaram o primado científico e, a partir de 1923, começaram a conquistar prêmios Nobel de medicina, de física, de química. Os norte-americanos foram os primeiros a fazer a bomba atômica, o reator nuclear, a mandar o homem à lua. Práticos, objetivos, criativos, determinados, eles construíram uma novus ordo seculorum” a partir do espírito liberal que privilegia a democracia e o respeito às leis.

Em sua obra, “A Democracia na América” (1835-1840), observou Aléxis de Tocqueville sobre os Estados Unidos: “Os homens ali se mostram mais iguais pela riqueza e pela inteligência ou, por outras palavras, mais igualmente fortes do que em qualquer outro país do mundo e do que em qualquer outro século relembrado pela história”.

É brilho demais a ofuscar de modo insuportável os latino-americanos que, no fundo, sonham ser os Estados Unidos e não conseguem.

Não precisaríamos ter tido uma história de fracassos, mas a questão foi que tivemos uma “embriogenia defeituosa” e tanto nas colônias espanholas quanto na brasileira surgiram “sociedades invertebradas” sem, como diria Ortega y Gasset, “a potência verdadeiramente substancial que impulsiona e nutre um processo nacional: um projeto sugestivo de vida em comum”. Não tivemos a “comunidade de propósitos” das colônias inglesas, aquele elo que faz com que grupos integrantes “convivam não por estar juntos, mas sim por fazer algo juntos”.

O que prevaleceu na América Latina foram as sociedades desiguais, o isolamento entre as camadas sociais, a falta de “minorias seletas” que comandassem o processo emancipatório, a inexistência do espírito associativo substituído pela vivência no pequeno mundo familiar ou clânico, os governos perdulários, os caudilhos incompetentes. A soma de tais fatores gerou o atraso econômico e, sobretudo, a mentalidade do atraso.

No nosso subdesenvolvimento político e econômico, onde a corrupção é endêmica, padecemos como se vivêssemos exilados em terra própria. Sentimentos contraditórios de altivez e inferioridade nos acometem e na ânsia de nos libertarmos da síndrome do fracasso, cujas raízes se prendem ao passado, preferimos descarregar nossa frustração em possíveis culpados, aqueles que seriam responsáveis pelos problemas que nós próprios criamos. Culpamos de Colombo a Bush por nossas fraquezas e mazelas. Só nos esquecemos de perguntar o que fizemos a nós mesmos.

Jean-François Revel, na introdução à obra de Carlos Rangel, “Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário”, afirma que “a história da América Latina prolonga a contradição que lhe deu origem. Oscila entre as falsas revoluções e as ditaduras anárquicas, a corrupção e a miséria, a ineficácia e o nacionalismo exacerbado”. Conclui dizendo que “o êxito insolente dos Estados Unidos” tornou-se um fator adicional de amargura para nós.

Para nos contrapormos aos nossos males devemos nos tornar socialistas. Seríamos revolucionários de esquerda. Mas como disse Roberto Campos, “como pessoa física, somos comunistas, como pessoa jurídica, somos capitalistas”. Não suportamos o liberalismo que nunca tivemos. Não importa se o socialismo em toda parte em que foi implantado acabou com a liberdade, anulou o indivíduo, subjugou através do Estado tirânico. Se antigamente se gritava fora ianque, hoje é a mesma coisa. Ficamos paralisados no tempo como aquelas músicas mexicanas tipo “Cucurucucu Paloooooomaaaaaaaaaaaaa”. Somos incapazes de “virar o disco”. Na visita de Bush vejo manifestações de nossas garbosas esquerdas agitando bandeiras vermelhas pelo Brasil afora. Não aparecem passeatas ou manifestações contra a corrupção, a violência, os impostos escorchantes, a má qualidade da saúde e da educação, o pífio crescimento econômico.

A realidade, porém, é que não podemos viver sem capitalismo e até a China restituiu ao povo a propriedade privada. Nós, filhos dependentes do pai-Estado, estamos felizes transferindo nosso capital para os políticos profissionais ou para países amigos como, por exemplo, a Bolívia. Yes, nós amamos Chávez e odiamos Bush.

07 março, 2007

A UPS e o Mundo Plano

O que é que aqueles caras de bermudão marrom andam fazendo ?

"Uma das coisas de que mais gostei nas minhas pesquisas para escrever O Mundo é Plano foi descobrir um monte de coisas que estão acontecendo no mundo à minha volta, sem que eu tivesse idéia... Sim, aqueles caras de bermudão marrom, que andam nuns caminhões esquisitos. Pois acontece que, durante o meu cochilo, a velha e insossa UPS tornou-se um fator pujante de nivelamneto do mundo".
A UPS não se limitava mais a entregar pacotes. A sua proposta era agora pôr em sincronia as cadeias globais de fornecimento das pequenas ou grandes empresas. E numa visita feita à empresa, Friedman conclui que a empresa fundada em Seattle em 1907 como serviço de mensageiro é hoje uma dinâmica gerente de cadeias de fornecimento.
Com o achatamento do mundo, os pequenos passaram a poder pensar grande, isto é, as pequenas empresas adquiriram uma visão global. Muitas porém não sabiam executar tais idéias ou não tinham meios de gerenciar, por conta própria, uma cadeia de fornecimento complexa e global. Surge então uma nova oportunidade global de negócios para empresas tradicionais de remessa de pacotes como a UPS.
A UPS está em várias empresas e assumindo os veículos com a sua marca para garantir a pontualidade das entregas. Compras on-line são enviadas diretamente para a UPS que nos seus depósitos "recebe, confere, embala e entrega o pedido". Hoje há organizações que sequer tocam em seus produtos. A UPS supervisiona todo o trajeto, da fábrica ao armazenamento, deste ao cliente, do cliente à assistência técnica - e cuida até da cobrança se for preciso.
Alguns anos atrás a Toshiba teve problemas de imagem com a demora da entrega de equipamentos defeituosos a serem consertados pela assistência técnica. Então a UPS desenvolveu o seguinte processo: pegar o equipamento, consertá-lo e enviá-lo de volta para o cliente. Os técnicos da UPS são todos certificados pela Toshiba; as reclamações dos clientes despencaram.
"Durante anos a danação da maioria das revendas Ford eram os meandros labirínticos que os carros tinham de percorrer para chegar da fábrica as concessionárias", observou a revista Business Week em sua edição de 19/07/2004. "Os automóveis podiam demorar até um mês para chegar - quer dizer, isso quando não se perdiam pelo caminho. A Ford Motor Co. não era capaz sequer de informar que modelos estavam a caminho, ou o que havia em estoque no pátio ferroviário mais próximo. "Perdíamos o controle daqueles trens lotados de carros", recorda Jerry Reynolds, proprietário da Prestige Ford, Garland, Texas. "Era uma loucura." Mas depois que a UPS entrou na jogada, "seus engenheiros reconfiguraram toda a rede de distribuição da Ford da América do Norte e simplificaram tudo, do trajeto percorrido pelos carros depois de deixarem a fábrica até seu processamento nos centros regionais de distribuição" - processo que compreendeu a adoção de etiquetas de códigos de barra afixadas aos pára-brisas dos 4 milhões de veículos que saem das linhas de montagem da Ford nos EUA, de modo que pudessem ser rastreados como qualquer outro pacote. O resultado ? A UPS cortou em cerca de 40% o tempo em que os automóveis levavam para chegar aos estacionamentos das concessionárias - que hoje é, em média, de dez dias. Diz a Business Week : "Com isso a Ford pôde economizar milhões em capital de giro por ano, e ficou fácil para as suas 6.500 mil revendas monitorar os modelos de maior demanda (...). 'Foi a transformação mais radical que eu já vi', maravilha-se Reynolds. 'A última coisa que eu perguntei ao pessoal da UPS foi se eles não conseguiriam peças de reposição para a gente desse jeito.'"

Fonte: O Mundo é Plano - Uma Breve História do Século XXI, Thomas L. Friedman

O Mundo Plano

Alguém ainda duvida que vivemos na era da informação?
Exemplo: estou em Lisboa, publicando isto num site americano que pode ter o seu servidor colocado em qualquer parte do mundo e, à partir do momento em que o texto é publicado, fica acessível à qualquer pessoa em praticamente qualquer parte do mundo.
Esta facilidade na divulgação da informação, esta democratização da informação, acarreta e acarretará muitas mudanças no cenário mundial onde entra também a tão falada globalização. O comentarista de política internacional, Thomas L. Friedman, no seu livro mais recente, O Mundo é Plano, mostra os indícios que provam que o nosso mundo está a tornar-se mais plano a cada dia e menciona dez acontecimentos que contribuíram para que o mundo se tornasse plano. Eles são:

#1 – 9/11/1989 – Quando se derrubaram muros e edificaram janelas
Cai o muro de Berlim e aumenta a distribuição de informação. Começa uma uniformização corporativa à partir democratização da informação. Logo depois surge o Windows permitindo que as pessoas interajam melhor com o PC, aumentando o número de aplicações criadas e aumentando a produtividade empresarial e pessoal.
#2 – 9/9/1995 – Quando a Netscape se torna pública
Abrem-se as portas para a massificação da Internet. O Netscape torna a Internet acessível a todos e ajuda a garantir que os protocolos já existentes (HTTP, FTP, TCP/IP, POP e outros) não seriam monopolizados pela Microsoft ou outra grande corporação. Surgiu também a bolha das dotcom quando muitas empresas começaram a explorar a necessidade de comunicação e distribuir quilômetros de fibra ótica pelo mundo. Depois do estouro da bolha estas fibras foram vendidas muito barato o que facilitou e barateou a comunicação mundial.
#3 – Software de sistematização dos fluxos de trabalho – Vamos almoçar: faça com que a sua aplicação “fale” com a minha aplicação
É uma revolução silenciosa que permite que as aplicações se comuniquem entre si contribuindo ainda mais para que o mundo se torne plano. Uma plataforma global foi criada, em vez de tentar-se manipular o formato das aplicações acabou-se por permitir que elas se entendessem entre si.

Estes três primeiros acontecimentos criaram uma plataforma poderosa que planificou o mundo permitindo que todos se comunicassem. Os seis acontecimentos seguintes representam novas formas de colaboração que fazem uso desta plataforma.

#4 – Open-Sourcing – Comunidades cooperantes auto-organizadas
No open-sourcing ferramentas são desenvolvidas por várias pessoas e ninguém é proprietário da ferramenta. Temos como exemplo o Apache que é usado por dois terços dos servidores de Internet actualmente e esta em constante evolução por ser open source. Enquanto que nos softwares comerciais o código fonte é guardado a sete chaves, nos softwares open source o código está a disponibilidade de quem quiser permitindo que erros sejam detectados e corrigidos rapidamente e permite que o software seja melhorado por qualquer um. O open source disponibiliza gratuitamente muitas ferramentas e desafia as estruturas hierárquicas com um modelo horizontal de inovação. Outros exemplos além do Apache, são o Linux, o Gimp, a Wikipédia, o Mozilla, entre outros.
#5 – Outsourcing – Y2K
Com o famoso bug do milénio, muitas empresas americanas contrataram mão de obra mais barata, na Índia, para fazer o trabalho aborrecido de melhor alterar o ano nas datas de dois dígitos para quatro. Graças aos três primeiros acontecimentos mencionados era possível enviar os programas para serem alterados na própria Índia o que tornava o processo mais barato. Depois de resolvido o problema, o barateamento das comunicações permitiu que esta solução fosse adotada em outras situações o que tornou a Índia, por exemplo, um grande celeiro de massa cinzenta para os EUA.
#6 – Offshoring – Correndo com as gazelas, comendo com os leões
A entrada da China na OMC permitiu que muitas empresas tivessem produtos fabricados lá por um preço baixíssimo barateando os custos de produção e consequentemente aumentando lucros empresariais e reduzindo preços.
#7 – Encadeamento de Abastecimento – Comer Sushi no Arkansas
A automação da comunicação entre as empresas foi facilitada quando o mundo começou a tornar-se plano o que possibilita que as empresas se comuniquem entre si aumentando a qualidade do serviço oferecido, diminuindo preços e facilitando a distribuição das mercadorias. Temos como exemplo a empresa americana Wal-Mart que controla o seu estoque diretamente com o fornecedor, conforme as mercadorias vão sendo vendidas o fornecedor vai adaptando a sua produção e distribuição.
#8 – Insourcing – O que andam a fazer, na realidade, aqueles indivíduos de calções castanhos engraçados
Insourcing é quando uma empresa contrata outra, melhor capacitada, para prestar um serviço necessário. Por exemplo, se você tem um portátil Toshiba, dentro do prazo de garantia, que se avariou, a Toshiba lhe dará instruções para deixar o mesmo numa loja da UPS para que seja reparado. Antigamente a UPS transportava o portátil até uma autorizada da Toshiba para que o mesmo fosse reparado para acelerar o processo, atualmente é a própria UPS que conserta o portátil e o devolve. Outro exemplo, a Nike prefere investir na concepção de ténis, não em cadeias de abastecimento, então melhorou o seu serviço ao contratar alguém com o know-how e a estrutura necessária para fazer a distribuição. Outro detalhe, a UPS fornece serviço para todo tipo de empresa e tenta adequar os preços permitindo que empresas menores tenham a mesma qualidade de serviço das grandes favorecendo ainda mais a planificação do mundo ao democratizar as oportunidades.
#9 – In-Forming – Motores de busca Google, Yahoo! e MSN.
A informação ao alcance de todo o mundo, basta pesquisar na rede. Tente lembrar como era antigamente, quando não existia a Interne, por exemplo, era preciso ir-se as bibliotecas a procura de informações e às vezes era preciso um pouco de sorte para se encontrar rapidamente o que desejava ou ter a sorte de a publicação pretendida estar disponível.
#10 – Os Esteróides – Digitais, Móveis, Pessoais e Virtuais.
As comunicações sem fios, os telefones celulares, iPods, PDAs e outras ferramentas do mesmo estilo nos mantém em contato com o mundo e com todos o tempo inteiro. O celular deixa de ser a cada um simples telefone para incorporar novas funções e características. No Japão, os jovens utilizam o PC no escritório e os celulares e apoiam o estilo de vida pessoal no celular. A informação disponíveis aos jovens japonesas através da Internet nos celulares é tão grande que mal tenham uma dúvida a primeira coisa que fazem é buscar a resposta pelo telefone. Imagine as seguinte situação, o telefone tem um scan de códigos de barra e você está andando pela rua e vê um pôster anunciando um show da Madonna, você passa o scan pelo código e o bilhete é comprado. Outro pôster anuncia o novo CD da Madonna, você passa o scan e recebe no telefone amostras das músicas do CD, se gostar, passa o scan de novo e compra o CD que será entrega na sua casa, ou terá as músicas disponibilizadas para o telefone.


Fonte: O Mundo é Plano – Uma breve história do Século XXI, Thomas L. Friedman.